quinta-feira, outubro 27, 2005

Ode a Ana

Deus me traga Ana de volta, estragada.

Eu a quero antes de conhece la, antes das cinzas de cigarro no meu lençol,
antes do sol nascer. Sem risadas histéricas e sem saber o preço de suas
calcinhas. Traga Ana sem intimidade, sem olhares de entrega e sem lágrimas
no rosto. Traga Ana para mim sem amor.

Quero Ana de volta vendada, travada com lacre de segurança.


Afasta de mim essa mulher que sorri todos os seus dentes, essa Ana maquiada
e penteada, falante e preguiçosa, entregue e amante, cheia de medos e
desejos maternais.

Afaste a da minha casa e acima de tudo, Deus, afaste seus braços compridos
que parecem poder envolver o mundo.

De onde saiu essa mulher amante que parece não querer nada além de amar. Ana
ama tudo, ama a vida, a mim, aos nossos futuros filhos. Ana não é mais, nem
de longe, a mulher que costumava ser.


Eu quero Ana de volta nem que eu tenha que perder. Eu quero Ana me
ignorando, falando baixo e rasgado, odiando a tudo e a todos. Como eu podia
imaginar que tudo que Ana queria era amar. Ana perdão, mas seus filhos vão
morrer antes de nascer. Ana que ama vai chorar e eu vou perder. E no final
eu terei apenas o pior de você que na verdade foi o que eu sempre amei.
Perdão por te lá feito se entregar, mas você exagerou, Ana.