segunda-feira, novembro 29, 2004

hai-kais

Suggar,suggar
Que adoça ou
o meu benzinho?

Sobre a razão,
ainda assim,
eu prefiro não.

Água para ela
Ela sente sede.
Eu,sinto por ela.

E a educação?
agora,não obrigada.
fica pra outro dia.

O colar de Nina

Nina era uma moça muito bonita, ela tinha a alma infantil e como uma
criança que tenta se equilibrar num salto, Nina vivia com seu corpo
adulto.

Ela dizia entre as suas várias piscadinhas que para deixa-lá feliz,
mesmo em dias tristes, bastava um pedaço de torta de chocolate.
Foi justamente comendo um pedaço de torta que Nina achou, quase engoliu,
Perla, a pérola.

Perla era muito engraçada e todas as noite ela contava para Nina lindos poemas.
Um dia a pérola pediu que Nina escrevesse os contos e os publicasse, ela que gostava muito deles decidiu fazer isso pela nova amiga.
Os contos fizeram muito sucesso e renderam algum dinheiro.

Nina perguntou a Perla o que ela gostaria de fazer com o dinheiro,
Perla pediu que ela fizesse dela um colar de pérolas mas, Nina sabia que se Perla fosse para um colar nunca mais iria conseguir falar e assim não contaria mais seus contos.

Mas Perla insistiu e disse que gostaria de ir para um colar, por mais
que ela sentisse falta de Nina, não havia nada na vida de uma pérola
que fosse mais nobre que virar um colar.

Nina chorou muito mas enfim fez o que a pérola pediu, comprou pérolas e montou o colar.

Perla nunca mais falou e Nina todas as vezes que se sentia triste
comia um pedaço de torta com a esperança de algum dia achar uma outra
pérola.

sexta-feira, novembro 26, 2004

O Retorno

Ana morava no interior e trabalhava na cidade. Como uma daquelas pessoas
que preza muito por qualidade de vida, ela não se importava em pegar
estrada todos os dias para voltar para casa.

Naquele dia a estrada estava especialmente calma, e
Ana estava especialmente disposta a dirigir, situação exata para se ouvir B52's e
era o que a moça ouvia no som.

Pelo trajeto, poucos carros e quase nenhum caminhão.
Foi por isso que Ana não estranhou muito ao se ver sozinha, já fazia um bom
tempo que não passava nem ao menos uma carroça.

O caminho, ela conhecia muito bem não havia explicação para que, de repente
já se passassem horas e ela ainda não tinha chegado em casa, por um caminho que a
levava, todo os dias, em meia hora.

Ana começou a se sentir desconfortável mas, continuava dirigindo e
escutando B52's. Ela só resolveu voltar para a cidade depois de
admitir que algo de errado estava acontecendo. Ana teve medo de estar
louca, ela voltou, avisou para o marido que teria que dormir
por lá e ficou num hotel pensando no que aconteceu e na volta para a
cidade que levou exatamente meia hora.

No dia seguinte decidiu seguir o curso normal sem pensar mais no
assunto. Foi para o trabalho e no final do dia pegou o carro certa de
voltar para casa, sem músicas desta vez e apesar de ter certeza que
aquilo nada tinha a ver com o funcionamento do relógio, comprou um novo.

Eu só posso ter dormido, pensava Ana. Mas o tempo foi passando
e mais uma vez ela se viu numa parte da estrada que era uma reta na
qual o final daria na entrada da sua cidade. Mais uma vez o tempo ia
passando e Ana nunca chegava ao final. Ana dirigiu a noite
inteira, amanheceu e ela ainda não tinha chegado ao final da reta.

A moça parou desceu do carro atônita e chorou, ela gritava, estava
completamente desesperada. Tão desesperada que nem viu a minha
presença ao lado dela. Eu já estava alí uns bons dez minutos, claro!
na percepção de tempo dela. Quando por fim me notou Ana começou a me
contar sua história, falando sem parar até que eu mandei que ela se calasse e
disse: Ana minha filha já é tempo de você voltar.

Eu sabia que ela não iria se lembrar logo de cara, mas preferi que ela
se lembrasse sozinha. Enquanto isso ela insistia em que eu a ajudasse
a voltar para a casa. Eu disse que eu não poderia fazer isso mas que
conhecia alguém que a levaria até lá. Ela só teria que esperar pelo
seu retorno.

Ana insistiu mas aceitou o convite para descansar em minha casa.
Eu sempre digo que a terra das fadas é um lugar encantador mas, ao ver
os olhos de Ana eu mesma tive vontade de sair e me esquecer para poder
me surpreender com toda aquela beleza. Essa era uma experiência única
que Ana vivia pela segunda vez.

Ana, agora, chorava de felicidade finalmente tinha voltado para casa.

quinta-feira, novembro 25, 2004

A viúva alegre


Amanda é uma viúva que depois de anos, segundo diz, conheceu a verdadeira felicidade.
Realmente não haveria nenhum problema nessa questão se Amanda não tivesse encontrado essa felicidade com a escultura do túmulo de Victor Noir, jornalista assasinado por um primo de Napoleão III em 1870.

Amanda entrava sorrateramente no cemitério de madrugada e durante as suas visitas a Noir alega ter tido os melhores orgasmo da sua vida.“Ele é o melhor e vocês nunca vão conseguir me separar dele” gritava Amanda ao ser detida pelos policiais.

A administração do cemitério conta que devido ao volumoso atributo masculino da escultura, várias mulheres já foram pegas em situações, no mínimo, embaraçosas. Algumas chegam a afirmar que o próprio espírito de Noir se encontrava com elas.

A administração do cemitério decidiu cercar o túmulo para que afinal Victor Noir consiga descansar em paz ou que ao menos o consiga o vigia.

quarta-feira, novembro 24, 2004

Conspiração Bingos!



Gangue de idosos tenta pressionar o governo a reabrir e legalizar as casas de Bingo!

O crime aconteceu numa manhã como tantas em São Paulo. Seu Firmino, 75 anos aposentado há 20, matou esfaqueada a vizinha, Dona Alzira, de 67 anos.


Seu Firmino e Dona Alzira costumavam como muitos outros da sua idade freqüentar o Bingo que se localizava na vizinhança, entre prêmios e prejuízos ele e seus companheiros se encontravam todas as tarde para tentar a sorte e socializar.


Em depoimento seu Firmino alega que as atividades do CTI – Comando da Terceira Idade – estão voltadas para um único objetivo. A legalização e reabertura dos Bingos.


Ele disse em depoimento comovente que não gostaria de entregar a sua vida à televisão o que acontece com a maioria dos idosos da classe média. “Nós não queremos pegar piolho de pombos em pracinhas, nem vamos assistir televisão o dia inteiro, nós ainda somos cidadãos e vamos lutar pela nossa dignidade.”


Seu Firmino confessou ser um dos "cabeças" do CTI e ainda levou várias reportagens relatando o início de uma onda de crimes, os mais diversos, cometidos por integrantes da CTI. Desde golpes em portas de banco, venda de objetos roubados, até tráfico de drogas.


Ele disse que nesse meio tempo os bingos conseguiram provisoriamente a reabertura das casas. Seu Firmino apresentou então os jornais deste período onde não constava nenhum crime envolvendo idosos.


Com a revogação da liminar que permitia a abertura dos Bingos as casas voltaram a fechar as portas e os seus freqüentadores voltaram às ruas.


Seu Firmino afirma que, mesmo com a sua prisão, o CTI só vai parar quando os bingos voltarem a funcionar.

quarta-feira, novembro 17, 2004

O trio de Madrigais

A fome apertava até o coração
mas o pêssego era tão bonitinho
que eu guardei de recordação.


O homem do sacolão mandou que eu devolvesse
mas o pêssego agora fazia parte de mim
como poderia alguém ser tão frio assim?


Partiu meu coração
o homem tomou-me o pêssego
e mordeu sem compaixão.

quinta-feira, novembro 04, 2004

O inferno de Pedro

Naquela tarde Pedro pensava como pode um criador abandonar a criação no meio do caminho.
Pedro se sentia tão deslocado no mundo que pensava seriamente na hipótese de ter sido esquecido por Deus. Pensava que talvez nem na morte ele caberia, mas só para não ser chamado de covarde, tentaria a sorte. Mas Pedro era de fato um camarada muito azarado, quando já estava com a corda no percoço, viu pela janela um único motivo para não fazer aquilo, mas na euforia de se desprender de toda aquela parafernalha ele acabou por se enrolar mais.

Assim deu fim à sua vida.

Pedro só pensava em uma coisa: acerto de contas, ele merecia um acerto de contas com o criador, principalmente por ter morrido numa posição tão ridícula e ainda todo defecado. Mas como ele já imaginava acabou indo pros quintos do inferno.

A primeira vista parecia uma cidade do interior fedendo a terça-feira de carnaval. Pedro reparou também que os nomes das ruas eram todas datas e os bairros eram os anos. Aquilo alí era um inferno particular, Pedro sempre se sentia muito mal em qualquer ocasião especial, e a maioria delas marcavam coisas muito ruins para se comemorar.

Ele decidiu caminhar pela cidade inferno parou na rua 02 de novembro. Entrou numa casa e viu exatamente o dia do seu nascimento, Pedro chorou como um recém-nascido teve medo e sentiu frio. Viu sua mãe sozinha no chão de uma cozinha.Viu ela morrendo e o pai chegar desesperado.Correu de lá.

Passou por vários momentos ruins mas, até então, nada tão ruim quanto o nascimento.

Pedro que sempre acreditou em forças opostas sabia que mais cedo ou mais tarde acabaria encontrando "o tinhoso". Virando uma rua sem muita importância, com alguma vexame escolar entre tantos sofridos, lá estava ele, com um jeito angelical, mas com um fedor incomum, nunca tinha sentido um cheiro tão podre.

Ele sabia que era ele. Pedro disse oi, ele não respondeu, só perguntou:
- Você se lembra do dia em que perdeu a virgindade ou do dia em que estava na piscina na casa da sua tia?

Pedro não se lembrava de nenhum desses dias, nem via razão para essas passagens estarem alí, mas por curiosidade resolveu procurar os tais dias. "O tinhoso" foi embora e só então Pedro percebeu que o mal cheiro estava nele mesmo.

Ele andou, rodou e não chegou a lugar nenhum, não se lembrava daqueles dias, sentou e pensou na vida até adormecer.Quando acordou viu uma escada que levava para cima de um prédio, subiu, apesar da escada estar escorregadia.

Lá estava o dia em que ele perdeu a virgindade. O que ele não estava lembrando era da partida de Simone, sua melhor amiga que, de mudança foi sem deixar nenhum contato. Pedro tinha ficado de ir se despedir mas aconteceu tudo tão de repente que se esqueceu de Simone e desde aquele dia nunca mais teve contato com ela. Ele sentiu muito por isso e lembrou perfeitamente o quão triste e culpado se sentiu nessa dia.

Antes de descer avistou de longe a casa da Tia e lembrou o caminho.Chegando na casa, nada de estranho, ele era apenas uma criança que brincava na piscina, até o momento em que se aproximou um homem e perguntou para o menino Pedro quais eram as suas expectativas para o futuro. Pedro ria e jogava água no homem tentando pronunciar corretamente a palavra que ele não tinha nem idéia do significado.

Enquanto a criança sorria, Pedro chorava muito sentia o peito apertar e se agachava no chão como se aquilo pudesse aliviar a dor que sentia.

Pedro percebeu que até aquele momento ainda não sabia a resposta para a pergunta, viu que passou a vida ignorando problemas,datas até que ele se tornou um deles e como de costume acabou por ignorar a si mesmo.

Percebeu também que talvez não estivesse no inferno, tão pouco estivesse conversado com o Tinhoso.
Pedro percebeu que o acerto de contas tinha afinal sido feito.