segunda-feira, maio 18, 2009

Sobre amigos

Malditos pepinos.
Eu odeio, tu odeias, todo mundo odeia mas a Lívia ama!

minha casa

Acordo, tento identificar que teto é este que me cobre, mas não consigo.
As paredes são estranhas, parecem de mentira, nunca povoaram meu mundo, não sei como foram parar ali, elas circundam-me sem permissão.

A minha nova casa era feita de antigos hábitos, revestimentos e azulejos antiquados. Ela ficava numa velha rua, cheia de casinhas iguais a esta, onde crianças perpetuavam brincadeiras do passado, os muros tinham musgo verde estragando a pintura, e as casas tinham varandas, alpendres e cadeiras de ferro pintadas de branco.

Lá dentro os móveis, paredes e todo o resto eram romanticamente desgastados, com cheiro do tempo que cada coisa viveu. Nesta casa eu tinha a poltrona verde oliva da minha avó, a penteadeira da minha mãe, e o aparador que na época nem tinha este nome. Lá guardei lembranças daquilo que eu nunca vou querer esquecer, memórias que moldam meu presente, mas deixam minhas paredes sem alma.

Eu preciso de uma casa mais interna, com cantos onde eu possa me enfiar. Gosto de pensar num lugar onde eu possa entrar e mudar radicalmente minha impressão da rua. Um esconderijo bem a vista de todos.

Não sei bem o que fazer, será que esta apatia é culpa delas ou minha? Afinal, talvez o que falta na minha casa sou eu. As tardes ouvindo música, as conversas com a Fernanda, ou as horas de espera que antecediam a chegada do meu amor, uma briga, uma festa, uma chegada. Faltam meu pai e minha mãe deixando a casa ocupada e barulhenta às seis da tarde, faltam minhas irmãs me tirando espaço que a tarde garantia.

Penso como será para ele que parece se sentir tão à vontade com nosso espaço, que vai e vem calmo sem reparar no aparador ou na poltrona verde oliva. Sinto-me mais responsável ainda em deixar o piso de ardósia mais aconchegante. Olho demoradamente minha nova vida e me pergunto se será possível imprimirmos nossos breves contos nestas chapas de mdf que não irão guardar cheiro algum, mas ele está em paz, e eu estou aqui delirando sobre coisa alguma.
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Conselho de mãe

Sangre menina.

Nunca mais escreva. Nem mais uma palavra.

Não faça ponta no lápis, não sinta culpa alguma por isso.

Antes você precisa entortar, sentir arder.


Aborte esse filho mal criado, mas, por favor, chore por ele.

Sofra como se deve sofrer, sem comprimidos nem cobertas.

Aceite, filha minha, admita a aspereza.

Não há sentido em amenizar quase nada.

Não há razão para cultivar uma vida pálida.

Ah! filha do meu coração, perdão.

Perdão, por não fazer mais por você, mas para esta vida valer de verdade é preciso

se sujar um pouco mais, corte-se menina, corte-se profundamente, mas não morra.

Viva para ver cicatrizar.