segunda-feira, setembro 26, 2005

Berlin

No primeiro momento o medo foi inevitável ela ansiava por aquilo tanto quanto temia.
Mas finalmente lá estava Sofia diante de um mundo dez vezes maior que ela. A manhã era tão convidativa quanto à noite, era fria, calma e com cheiros distintos.

A chuva que caía deixava tudo cinza e melancólico, fazendo com que os elementos que compunham a paisagem a frente dela, inclusive ela, fossem muito mais antigos que realmente eram.

Então por um momento a chuva a fez parte daquilo que ela nunca foi, que nunca foi dela, mas que naquele momento era como se fosse.

O decorrer do dia passou como os dias passam para um recém-nascido.
Sofia poderia ter tido um maldito torcicolo, pois cada pedra de calçada era notada e a moça parecia querer engolir cada novidade apesar de, para sua surpresa, ter se sentido estupidamente feliz ao se deparar com alguns elementos familiares.

A noite trazia vários sons: uns embaraçosos outros bem vindos e a premissa de uma madrugada encharcada. Sofia bebia devagar a fim de não estragar sua percepção com a embriaguez, mas foi inevitável e até mesmo prudente beber mais que uns copos.

O frio doía na costela e a bebida só serviu mesmo para aquecer o corpo e a mente.
Sofia sentia o hálito frio e alcoólico do ar que insistia em ser fiel a sua razão... Parecia que ele poderia carrega - lá, levando-a para outro lugar ou mesmo entregá-la de volta.

Sofia pensava nisso enquanto uma mulher dizia coisas sem sentido e a presenteava com um pedaço de desenho que outrora ela tentava vender inteiro. A moça sorriu aceitando o desenho e saiu para outro bar, um que fosse possível dançar.

O vento, oposto a chuva, a tinha deixado deslocada. Claramente fora do contexto.
A madrugada trazia jovens encorajados por alguma força misteriosa, dessas vendidas engarrafadas ou enroladas em papelotes de alumínio.

O vento espalhava a fúria deles por colocar um fim a clareza. E tudo se tornou comum novamente, pois em se tratando de humanos nada, nem mesmo a distância os consegue parecer discrepantemente diferentes.

Então Sofia foi de volta pra casa. Onde ás vezes ela se sentia estupidamente feliz!

quinta-feira, setembro 01, 2005

O puteiro das candongas

Puta que pariu! Eu dizia pra mim mesma
Puta que pariu, você deixou o miojo queimar.

Choro...

Saio pra rua sem coragem de olhar a panela queimada e pensando na estupidez de ter saído de casa sem aprender a cozinhar. Puxa que burrice!

A casa é tão pequena mas tem enormes espaços vazios,assim como a rua que apesar de grande parece que não mora ninguém, só apartamentos. Onde estão os moradores, meus vizinhos, eu só vejo portas! Ora quem se importa, nem eu estou lá!

Eu gosto mesmo do metrô, tem o cara lindo que eu gosto de observar dormindo.
Tem a menina da mochila rosa, ah! Como ela cheira bem e aquele velhinho que fala sozinho e sempre diz umas coisas engraçadas.

Às vezes eu me sinto muito insignificante e ás vezes isso me faz bem.
É gratificante passar batido por aí, o mundo dá voltas, os conceitos evoluem e uma vez a cada tempo eu acabo me tornando cool de tão sem graça.

Mas o que pertuba minha vida é a casa torta! Por isso todos os dias eu passo por aqui e vejo se fizeram alguma coisa com ela! Deviam derrubar a porra da casa, casa feia do caralho!
Um dia eu queimo ela, abro um puteiro, chamo o velhinho doido do metrô para ser o porteiro, coloco a menina da mochila rosa para trabalhar e me caso com o cara lindo que dorme!