Era manhã de sábado, fazia muito tempo que Maria não acordava numa manhã de sábado. Ela se levantou, com preguiça se olhou no espelho e demorou. Maria apertava os olhos, se olhava de lado, respirou fundo e nada. Nada naquela mulher a fazia lembrar de Maria, quem era aquela mulher anulada? Quem era aquela porra de mulher genérica? Quem era aquela farsa? Maria sentia o corpo doer, esticou-se e foi para a cozinha preparar um café, um café melhora tudo.
A moça olhava a cozinha, um cômodo sem identidade, Maria cujo nome bíblico também a ofendia tomava seu café na cozinha sem graça e divagava com a empregada sobre o feminino: Nada é mais feminino que a loucura. A insanidade, essa foi a grande vingança de Deus, ou nem isso, talvez tenhamos sido só uma piada sem graça. Ainda se alguém me explicasse qual a finalidade de se criar um ser totalmente controlado por hormônios. Gostaria de entender qual a razão de dar continuidade a uma raça que só se repete. Mulheres, oh Deus, me diga qual a razão?
Por que deixar toda a confusão, e impulsão embutidas em nós? Será preciso nascer da cabeça de Zeus para conter nosso instinto de destruição? Nossa grande dádiva é também a nossa perdição, nós parimos e matamos todos os dias. Eu não suportaria uma filha, tampouco um filho, os homens são rasos, uma defesa contra o amor insano de suas mães, amantes e filhas.
É chegado o momento de aceitar a nossa condição, não podemos mais negar a loucura, ela é inata, é a mais pura representação feminina, a histeria é divina. Hoje, Deus, nós faremos as pazes, do prédio mais alto eu lhe darei a minha devoção, já que me fizeste esta criatura louca e destrutiva, eu não negarei, tomarei a atitude mais feminina de minha vida, louca e destrutiva eu serei.