quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Ave Isolda!

A lavadeira se vestiu de princesa e saiu para a avenida, onde foi saudada como tal.
Na frente de Isoldinha era essa a imagem que se formava e, na mente dela, a conclusão a qual chegara, fora de que se a lavadeira virou princesa poderia ela também se tornar uma nobre senhora.

Isoldinha fora abandonada pelo noivo, o rapaz a trocara por outro varão. Acabando de vez com a auto-estima da moça que já se encontrava bem miudinha. Era carnaval e, normalmente, todos estranhavam a falta de alegria de Isolda com a festa. Era a maior festa do ano, onde até as mães relaxavam um pouco e iam se enfeitar também.

Mas Isoldinha sempre foi uma moça quieta, com prazeres muito simples, um romance poderia ser lido por ela várias e várias vezes sem lhe deixar de ser interessante.

Mas neste carnaval Isoldinha aceitou o convite das colegas e foi para a rua fantasiada, com a cara e as unhas pintadas. Ela estava mesmo bonita, um pedaço de carne como lhe disse o amigo do irmão, um rapaz que a mãe já tinha advertido: Neguinho deveria ficar bem longe.

Isoldinha descobriu na passarela do samba sua nobreza, e como era farta.
Dançou sem se preocupar, sorria sem pudor aos que a olhavam, mas não se demorava em desviar o olhar e deixá-los ansiosos por uma próxima olhadela, que a moça cuidou para que não houvesse.

Isoldinha dançou até os pés não suportarem mais. Parou para descansar. Na frente de Isoldinha a lavadeira levantava o vestido de princesa despindo se da sua nobreza e entregue aos foliões que iam ao delírio com a sua figura nua.

Isoldinha viu também Alberto, o ex-noivo com o famigerado amigo de Neguinho.
Viu Neguinho se contorcer para melhor ver a princesa lavadeira, viu suas amigas, boquiabertas, amedrontadas com o fascínio que a nobre nua exercia sobre seus pares.

Isoldinha foi para casa. Caiu lhe a nobreza, a produção feita para a festa já havia sido lavada pela chuva. Mas a moça estava satisfeita, pela primeira vez desde menina, Isolda conseguiu compreender e se entregar ao carnaval. Debilmente ela se divertiu, cantou, dançou e sentiu aquela força inexplicável que fazia a multidão deixar os grilhões em casa.
E agiu, conscientemente, como uma tola!

Já na porta de casa, um folião que vinha pulando, sem camisa e com o sorriso mais honesto e embriagado na cara, sacou-lhe um beijo na boca, deixando-a em seguida, ainda pulando, mandando beijos pelo ar e agradecendo a bondade da princesa para com os vossos humildes súditos.