segunda-feira, dezembro 27, 2004

O triste fim do meu intuito...

Para mim
Um quê
de tudo
que não
se faz
assim.

Para você
sempre
vou garantir
tudo
que não passa
de um quê
pra mim.

Uma hora muito.
Mesmo pouco
garanto para você.
Mas se você
acha muito
cai no chão
o meu intuito.

Cai também
a minha cara
que
de
tão
amarga
prefere nem responder!

quinta-feira, dezembro 16, 2004

O mensageiro

Meu nome mesmo eu já não escuto há tempos. Normalmente me chamam Sr.K.
Naquele dia, em outubro de 81, eu me levantei e me preparei para ir trabalhar. Entendam que eu tive uma família, mulher e filhos e também um trabalho. Mas enfim naquele dia eu me preparei para ir trabalhar, minha esposa já havia saído, foi levar as crianças para escola, e eu terminava o meu desjejum quando alguém bateu à porta.

Eu abri, um rapaz entrou e sentou na mesa onde eu estava antes.
Ele começou a falar:
- Então é isso? pai de família e corretor de imóveis... Oras, não me faça rir. Você descobre o caminho e resolve esquecer?

Escute com atenção, filho, não foi atoa que você teve muito trabalho para achar aqueles manuscritos e também não foi atoa que eles estavam escritos em língua muito antiga. Agora que você os leu e compreendeu não pode simplesmente ignorar e virar corretor de imóveis.

Então ele levantou-se para ir embora comendo uma maça da minha fruteira. E antes dele cruzar a porta eu perguntei seu nome, ele me disse: “Gabriel, o mensageiro.

Meu corpo tremia, eu fechei a porta atrás de mim e fui trabalhar com medo de não saber nem ao menos o caminho até lá. Eu fui andando,tinha a impressão de que as pessoas estavam me olhando e sorrindo, como uma saudação.

Eu comecei a me sentir bem e neste momento eu já não estava indo para o trabalho, eu estava circulando, recebendo as minhas saudações então, um homem sujo e desdentado me pegou pelo braço e disse:
“Vais perder a vida rapaz.” A única forma de conseguir livrar-se disso é vindo pra sarjeta, ou você pensa que é fácil ser divino, se for esse o caso, vá em frente. Caso contrário fique aqui e viva até morrer. Nesta vida meu caro, para você, só restam as opções de ser divino ou não.

Gabriel estava atrás dele e rindo disse: Corretor de imóveis, não tenho absolutamente nada contra a classe. Mas me faça o favor...E então rapaz, isso que o amigo aí disse é verdade. Pode esquecer a sua individualidade, eu, por exemplo, não passo de um fragmento e é menos que isso que você vai se tornar.

E então?

Nesta hora olhei para o velho sujo e ele era tão familiar que eu me sentia mais confortável com ele, neste momento eu tive a certeza que o profano era o começo não o contrário do divino. Então eu permaneci com o velho até sua morte e continuarei aqui até chegar a minha vez.


quarta-feira, dezembro 01, 2004

Os sabores de Alice

Alice estava preparando o almoço mas só o feijão estava no fogo.
Quando Raul ligou Alice sabia, antes de atender o telefone, que era ele por isso atendeu com alegria.

Raul ficou mais sem graça ainda, mas tinha prometido a quem quer que seja que diria hoje a Alice que não mais a amava.

Alice desligou o telefone e ficou se perguntando o que levaria Raul a fazer aquilo na hora do almoço.
Ela acreditava acima de tudo em símbolos, Alice acreditava que a interpretação dos símbolos feita de forma adequada poderia resolver a maioria dos problemas, desde que estes fossem práticos.

Raul procurou Alice uma vez mais na hora do almoço, desta vez para acertar a “papelada” da separação. Mais uma vez só o feijão estava no fogo e Alice estava com suas vestes de cozinheira que ela tanto gostava por causa da praticidade do modelo.

Alice não fez nenhuma objeção aos pedidos do marido, futuro ex, e no final pediu que ele viesse jantar com ela afim de encerrar a relação amigavelmente. Raul aceitou, ele já estava bastante surpreso com a reação pacífica de Alice, na verdade ele esperava se sentir bastante culpado mas ela se manteve tão agradável e tranqüila que acabou eximindo toda a culpa dele.

Alice sempre dizia que: “Não há nada que uma boa pimenta, carne e ingredientes de cor amarela não façam por um homem, cores botam fogo nas entranhas. A eficácia do prato envolve deste o sabor até o aroma espalhado pela casa. “

Quando Raul chegou ele parecia tontear, tentava identificar o cheiro no ar, ele sabia que alí havia algo de familiar, um cheiro que antes não despertava atenção mas que agora o apetecia vorazmente, uma coisa muito louca um cheiro por vezes profano, por vezes divino.

Ele foi até a cozinha curioso e perguntou para Alice o que ela estava cozinhando.

Na verdade a comida tinha acabado de ficar pronta e já estava na mesa assim como Alice que sentada, sorria com os olhos, ciente da eficácia do seu preparado.