segunda-feira, dezembro 27, 2004

O triste fim do meu intuito...

Para mim
Um quê
de tudo
que não
se faz
assim.

Para você
sempre
vou garantir
tudo
que não passa
de um quê
pra mim.

Uma hora muito.
Mesmo pouco
garanto para você.
Mas se você
acha muito
cai no chão
o meu intuito.

Cai também
a minha cara
que
de
tão
amarga
prefere nem responder!

quinta-feira, dezembro 16, 2004

O mensageiro

Meu nome mesmo eu já não escuto há tempos. Normalmente me chamam Sr.K.
Naquele dia, em outubro de 81, eu me levantei e me preparei para ir trabalhar. Entendam que eu tive uma família, mulher e filhos e também um trabalho. Mas enfim naquele dia eu me preparei para ir trabalhar, minha esposa já havia saído, foi levar as crianças para escola, e eu terminava o meu desjejum quando alguém bateu à porta.

Eu abri, um rapaz entrou e sentou na mesa onde eu estava antes.
Ele começou a falar:
- Então é isso? pai de família e corretor de imóveis... Oras, não me faça rir. Você descobre o caminho e resolve esquecer?

Escute com atenção, filho, não foi atoa que você teve muito trabalho para achar aqueles manuscritos e também não foi atoa que eles estavam escritos em língua muito antiga. Agora que você os leu e compreendeu não pode simplesmente ignorar e virar corretor de imóveis.

Então ele levantou-se para ir embora comendo uma maça da minha fruteira. E antes dele cruzar a porta eu perguntei seu nome, ele me disse: “Gabriel, o mensageiro.

Meu corpo tremia, eu fechei a porta atrás de mim e fui trabalhar com medo de não saber nem ao menos o caminho até lá. Eu fui andando,tinha a impressão de que as pessoas estavam me olhando e sorrindo, como uma saudação.

Eu comecei a me sentir bem e neste momento eu já não estava indo para o trabalho, eu estava circulando, recebendo as minhas saudações então, um homem sujo e desdentado me pegou pelo braço e disse:
“Vais perder a vida rapaz.” A única forma de conseguir livrar-se disso é vindo pra sarjeta, ou você pensa que é fácil ser divino, se for esse o caso, vá em frente. Caso contrário fique aqui e viva até morrer. Nesta vida meu caro, para você, só restam as opções de ser divino ou não.

Gabriel estava atrás dele e rindo disse: Corretor de imóveis, não tenho absolutamente nada contra a classe. Mas me faça o favor...E então rapaz, isso que o amigo aí disse é verdade. Pode esquecer a sua individualidade, eu, por exemplo, não passo de um fragmento e é menos que isso que você vai se tornar.

E então?

Nesta hora olhei para o velho sujo e ele era tão familiar que eu me sentia mais confortável com ele, neste momento eu tive a certeza que o profano era o começo não o contrário do divino. Então eu permaneci com o velho até sua morte e continuarei aqui até chegar a minha vez.


quarta-feira, dezembro 01, 2004

Os sabores de Alice

Alice estava preparando o almoço mas só o feijão estava no fogo.
Quando Raul ligou Alice sabia, antes de atender o telefone, que era ele por isso atendeu com alegria.

Raul ficou mais sem graça ainda, mas tinha prometido a quem quer que seja que diria hoje a Alice que não mais a amava.

Alice desligou o telefone e ficou se perguntando o que levaria Raul a fazer aquilo na hora do almoço.
Ela acreditava acima de tudo em símbolos, Alice acreditava que a interpretação dos símbolos feita de forma adequada poderia resolver a maioria dos problemas, desde que estes fossem práticos.

Raul procurou Alice uma vez mais na hora do almoço, desta vez para acertar a “papelada” da separação. Mais uma vez só o feijão estava no fogo e Alice estava com suas vestes de cozinheira que ela tanto gostava por causa da praticidade do modelo.

Alice não fez nenhuma objeção aos pedidos do marido, futuro ex, e no final pediu que ele viesse jantar com ela afim de encerrar a relação amigavelmente. Raul aceitou, ele já estava bastante surpreso com a reação pacífica de Alice, na verdade ele esperava se sentir bastante culpado mas ela se manteve tão agradável e tranqüila que acabou eximindo toda a culpa dele.

Alice sempre dizia que: “Não há nada que uma boa pimenta, carne e ingredientes de cor amarela não façam por um homem, cores botam fogo nas entranhas. A eficácia do prato envolve deste o sabor até o aroma espalhado pela casa. “

Quando Raul chegou ele parecia tontear, tentava identificar o cheiro no ar, ele sabia que alí havia algo de familiar, um cheiro que antes não despertava atenção mas que agora o apetecia vorazmente, uma coisa muito louca um cheiro por vezes profano, por vezes divino.

Ele foi até a cozinha curioso e perguntou para Alice o que ela estava cozinhando.

Na verdade a comida tinha acabado de ficar pronta e já estava na mesa assim como Alice que sentada, sorria com os olhos, ciente da eficácia do seu preparado.

segunda-feira, novembro 29, 2004

hai-kais

Suggar,suggar
Que adoça ou
o meu benzinho?

Sobre a razão,
ainda assim,
eu prefiro não.

Água para ela
Ela sente sede.
Eu,sinto por ela.

E a educação?
agora,não obrigada.
fica pra outro dia.

O colar de Nina

Nina era uma moça muito bonita, ela tinha a alma infantil e como uma
criança que tenta se equilibrar num salto, Nina vivia com seu corpo
adulto.

Ela dizia entre as suas várias piscadinhas que para deixa-lá feliz,
mesmo em dias tristes, bastava um pedaço de torta de chocolate.
Foi justamente comendo um pedaço de torta que Nina achou, quase engoliu,
Perla, a pérola.

Perla era muito engraçada e todas as noite ela contava para Nina lindos poemas.
Um dia a pérola pediu que Nina escrevesse os contos e os publicasse, ela que gostava muito deles decidiu fazer isso pela nova amiga.
Os contos fizeram muito sucesso e renderam algum dinheiro.

Nina perguntou a Perla o que ela gostaria de fazer com o dinheiro,
Perla pediu que ela fizesse dela um colar de pérolas mas, Nina sabia que se Perla fosse para um colar nunca mais iria conseguir falar e assim não contaria mais seus contos.

Mas Perla insistiu e disse que gostaria de ir para um colar, por mais
que ela sentisse falta de Nina, não havia nada na vida de uma pérola
que fosse mais nobre que virar um colar.

Nina chorou muito mas enfim fez o que a pérola pediu, comprou pérolas e montou o colar.

Perla nunca mais falou e Nina todas as vezes que se sentia triste
comia um pedaço de torta com a esperança de algum dia achar uma outra
pérola.

sexta-feira, novembro 26, 2004

O Retorno

Ana morava no interior e trabalhava na cidade. Como uma daquelas pessoas
que preza muito por qualidade de vida, ela não se importava em pegar
estrada todos os dias para voltar para casa.

Naquele dia a estrada estava especialmente calma, e
Ana estava especialmente disposta a dirigir, situação exata para se ouvir B52's e
era o que a moça ouvia no som.

Pelo trajeto, poucos carros e quase nenhum caminhão.
Foi por isso que Ana não estranhou muito ao se ver sozinha, já fazia um bom
tempo que não passava nem ao menos uma carroça.

O caminho, ela conhecia muito bem não havia explicação para que, de repente
já se passassem horas e ela ainda não tinha chegado em casa, por um caminho que a
levava, todo os dias, em meia hora.

Ana começou a se sentir desconfortável mas, continuava dirigindo e
escutando B52's. Ela só resolveu voltar para a cidade depois de
admitir que algo de errado estava acontecendo. Ana teve medo de estar
louca, ela voltou, avisou para o marido que teria que dormir
por lá e ficou num hotel pensando no que aconteceu e na volta para a
cidade que levou exatamente meia hora.

No dia seguinte decidiu seguir o curso normal sem pensar mais no
assunto. Foi para o trabalho e no final do dia pegou o carro certa de
voltar para casa, sem músicas desta vez e apesar de ter certeza que
aquilo nada tinha a ver com o funcionamento do relógio, comprou um novo.

Eu só posso ter dormido, pensava Ana. Mas o tempo foi passando
e mais uma vez ela se viu numa parte da estrada que era uma reta na
qual o final daria na entrada da sua cidade. Mais uma vez o tempo ia
passando e Ana nunca chegava ao final. Ana dirigiu a noite
inteira, amanheceu e ela ainda não tinha chegado ao final da reta.

A moça parou desceu do carro atônita e chorou, ela gritava, estava
completamente desesperada. Tão desesperada que nem viu a minha
presença ao lado dela. Eu já estava alí uns bons dez minutos, claro!
na percepção de tempo dela. Quando por fim me notou Ana começou a me
contar sua história, falando sem parar até que eu mandei que ela se calasse e
disse: Ana minha filha já é tempo de você voltar.

Eu sabia que ela não iria se lembrar logo de cara, mas preferi que ela
se lembrasse sozinha. Enquanto isso ela insistia em que eu a ajudasse
a voltar para a casa. Eu disse que eu não poderia fazer isso mas que
conhecia alguém que a levaria até lá. Ela só teria que esperar pelo
seu retorno.

Ana insistiu mas aceitou o convite para descansar em minha casa.
Eu sempre digo que a terra das fadas é um lugar encantador mas, ao ver
os olhos de Ana eu mesma tive vontade de sair e me esquecer para poder
me surpreender com toda aquela beleza. Essa era uma experiência única
que Ana vivia pela segunda vez.

Ana, agora, chorava de felicidade finalmente tinha voltado para casa.

quinta-feira, novembro 25, 2004

A viúva alegre


Amanda é uma viúva que depois de anos, segundo diz, conheceu a verdadeira felicidade.
Realmente não haveria nenhum problema nessa questão se Amanda não tivesse encontrado essa felicidade com a escultura do túmulo de Victor Noir, jornalista assasinado por um primo de Napoleão III em 1870.

Amanda entrava sorrateramente no cemitério de madrugada e durante as suas visitas a Noir alega ter tido os melhores orgasmo da sua vida.“Ele é o melhor e vocês nunca vão conseguir me separar dele” gritava Amanda ao ser detida pelos policiais.

A administração do cemitério conta que devido ao volumoso atributo masculino da escultura, várias mulheres já foram pegas em situações, no mínimo, embaraçosas. Algumas chegam a afirmar que o próprio espírito de Noir se encontrava com elas.

A administração do cemitério decidiu cercar o túmulo para que afinal Victor Noir consiga descansar em paz ou que ao menos o consiga o vigia.

quarta-feira, novembro 24, 2004

Conspiração Bingos!



Gangue de idosos tenta pressionar o governo a reabrir e legalizar as casas de Bingo!

O crime aconteceu numa manhã como tantas em São Paulo. Seu Firmino, 75 anos aposentado há 20, matou esfaqueada a vizinha, Dona Alzira, de 67 anos.


Seu Firmino e Dona Alzira costumavam como muitos outros da sua idade freqüentar o Bingo que se localizava na vizinhança, entre prêmios e prejuízos ele e seus companheiros se encontravam todas as tarde para tentar a sorte e socializar.


Em depoimento seu Firmino alega que as atividades do CTI – Comando da Terceira Idade – estão voltadas para um único objetivo. A legalização e reabertura dos Bingos.


Ele disse em depoimento comovente que não gostaria de entregar a sua vida à televisão o que acontece com a maioria dos idosos da classe média. “Nós não queremos pegar piolho de pombos em pracinhas, nem vamos assistir televisão o dia inteiro, nós ainda somos cidadãos e vamos lutar pela nossa dignidade.”


Seu Firmino confessou ser um dos "cabeças" do CTI e ainda levou várias reportagens relatando o início de uma onda de crimes, os mais diversos, cometidos por integrantes da CTI. Desde golpes em portas de banco, venda de objetos roubados, até tráfico de drogas.


Ele disse que nesse meio tempo os bingos conseguiram provisoriamente a reabertura das casas. Seu Firmino apresentou então os jornais deste período onde não constava nenhum crime envolvendo idosos.


Com a revogação da liminar que permitia a abertura dos Bingos as casas voltaram a fechar as portas e os seus freqüentadores voltaram às ruas.


Seu Firmino afirma que, mesmo com a sua prisão, o CTI só vai parar quando os bingos voltarem a funcionar.

quarta-feira, novembro 17, 2004

O trio de Madrigais

A fome apertava até o coração
mas o pêssego era tão bonitinho
que eu guardei de recordação.


O homem do sacolão mandou que eu devolvesse
mas o pêssego agora fazia parte de mim
como poderia alguém ser tão frio assim?


Partiu meu coração
o homem tomou-me o pêssego
e mordeu sem compaixão.

quinta-feira, novembro 04, 2004

O inferno de Pedro

Naquela tarde Pedro pensava como pode um criador abandonar a criação no meio do caminho.
Pedro se sentia tão deslocado no mundo que pensava seriamente na hipótese de ter sido esquecido por Deus. Pensava que talvez nem na morte ele caberia, mas só para não ser chamado de covarde, tentaria a sorte. Mas Pedro era de fato um camarada muito azarado, quando já estava com a corda no percoço, viu pela janela um único motivo para não fazer aquilo, mas na euforia de se desprender de toda aquela parafernalha ele acabou por se enrolar mais.

Assim deu fim à sua vida.

Pedro só pensava em uma coisa: acerto de contas, ele merecia um acerto de contas com o criador, principalmente por ter morrido numa posição tão ridícula e ainda todo defecado. Mas como ele já imaginava acabou indo pros quintos do inferno.

A primeira vista parecia uma cidade do interior fedendo a terça-feira de carnaval. Pedro reparou também que os nomes das ruas eram todas datas e os bairros eram os anos. Aquilo alí era um inferno particular, Pedro sempre se sentia muito mal em qualquer ocasião especial, e a maioria delas marcavam coisas muito ruins para se comemorar.

Ele decidiu caminhar pela cidade inferno parou na rua 02 de novembro. Entrou numa casa e viu exatamente o dia do seu nascimento, Pedro chorou como um recém-nascido teve medo e sentiu frio. Viu sua mãe sozinha no chão de uma cozinha.Viu ela morrendo e o pai chegar desesperado.Correu de lá.

Passou por vários momentos ruins mas, até então, nada tão ruim quanto o nascimento.

Pedro que sempre acreditou em forças opostas sabia que mais cedo ou mais tarde acabaria encontrando "o tinhoso". Virando uma rua sem muita importância, com alguma vexame escolar entre tantos sofridos, lá estava ele, com um jeito angelical, mas com um fedor incomum, nunca tinha sentido um cheiro tão podre.

Ele sabia que era ele. Pedro disse oi, ele não respondeu, só perguntou:
- Você se lembra do dia em que perdeu a virgindade ou do dia em que estava na piscina na casa da sua tia?

Pedro não se lembrava de nenhum desses dias, nem via razão para essas passagens estarem alí, mas por curiosidade resolveu procurar os tais dias. "O tinhoso" foi embora e só então Pedro percebeu que o mal cheiro estava nele mesmo.

Ele andou, rodou e não chegou a lugar nenhum, não se lembrava daqueles dias, sentou e pensou na vida até adormecer.Quando acordou viu uma escada que levava para cima de um prédio, subiu, apesar da escada estar escorregadia.

Lá estava o dia em que ele perdeu a virgindade. O que ele não estava lembrando era da partida de Simone, sua melhor amiga que, de mudança foi sem deixar nenhum contato. Pedro tinha ficado de ir se despedir mas aconteceu tudo tão de repente que se esqueceu de Simone e desde aquele dia nunca mais teve contato com ela. Ele sentiu muito por isso e lembrou perfeitamente o quão triste e culpado se sentiu nessa dia.

Antes de descer avistou de longe a casa da Tia e lembrou o caminho.Chegando na casa, nada de estranho, ele era apenas uma criança que brincava na piscina, até o momento em que se aproximou um homem e perguntou para o menino Pedro quais eram as suas expectativas para o futuro. Pedro ria e jogava água no homem tentando pronunciar corretamente a palavra que ele não tinha nem idéia do significado.

Enquanto a criança sorria, Pedro chorava muito sentia o peito apertar e se agachava no chão como se aquilo pudesse aliviar a dor que sentia.

Pedro percebeu que até aquele momento ainda não sabia a resposta para a pergunta, viu que passou a vida ignorando problemas,datas até que ele se tornou um deles e como de costume acabou por ignorar a si mesmo.

Percebeu também que talvez não estivesse no inferno, tão pouco estivesse conversado com o Tinhoso.
Pedro percebeu que o acerto de contas tinha afinal sido feito.

sexta-feira, outubro 29, 2004

Todos os natais

Eu chorava copiosamente e ele estava apenas esperando acabar para se
despedir e ir embora sem se importar com o que seria de mim dali por
diante. Dalí o pintor! eu gosto dele. Pensei... e parei de chorar.

Ele ameaçou me abraçar mas eu me desvencilhei e disse ... - Vai, eu já
acabei! Ele me recriminou com os olhos, eu tive raiva, mas eu ainda o
amava e mal podia acreditar que ele estivesse fazendo aquilo comigo.
Eu só conseguia me lembrar do dia em que agradeci a Deus por estar
do lado do homem que eu amava, eu era uma privilegiada... mas agora
eu era uma largada!
Desde aquela fatídica tarde eu nunca mais tinha o encontrado, não por
falta de esforço, eu fui até a casa dele, mas ele já não morava mais
lá. Nunca mais consegui passar naquela rua.

Chovia, era época de natal, a cidade estava cheia de pessoas,
sininhos, vermelho, dourado e chuva muita chuva o céu estava desabando e as pessoas continuavam felizes com as suasrabanadas...
Na noite de natal, depois da ceia, eu ia para a casa das meninas,
que sempre tinham muita comida, bebida e música ... nada natalinas para
oferecer.

Então era natal e eu fui com a minha carcaça deprimida para lá e quase
babei de nervoso... quando do lado de fora eu vejo ele, aquele que eu
evito pronunciar o nome desde o início deste relato. Ele estava lá, de
todos os lugares que eu achei que pudesse topar com ele por acidente,
alí era o lugar mais improvável, eu estava completamente despreparada.

Eu fique parada no portão, tomando chuva e pensando no que eu iria
fazer, pensava em Dalí, e na dor de barriga que começava. Eu me virei
para ir embora, mas uma das meninas me viu e gritou.

Ele virou, eu disse que só tinha passado para deixar um presente, pedi
que ela viesse até a porta, mas ele saiu e veio falar comigo.
Ele disse oi e eu respondi com um sorriso calado. Entrei,cumprimentei as pessoas e me sentei no canto mais isolado. Mas ele estava disposto a bater papo comigo, jogar conversa fora, eu quase morrendo por dentro, retorcendo os meus orgãos internos e ele jogando conversa fora.

Por fim eu pedi licença e saí. Não antes de lascar um beijo na boca dele. (merda)
No caminho eu chorava mais que naquela tarde e pensava comigo... " como eu pude ir embora e deixa-lo, eu sabia que me arrependeria, mas qual era a razão da figura dele naquela festa, elas eram minhas amigas, que raios ele estava fazendo lá. Teria ido atrás de mim?
Voltei! sim eu voltei para a festa agora segura de mim, tão segura ao ponto de perceber que ele estava lá com outra mulher, mundo pequeno né, e eu beijei a boca dele na frente dela, e ele nos apresentou, e ela foi super compreensiva... Olha a louca, tadinha só estava um pouco desavisada.

Ah! eu precisava tanto de um copo de veneno que na falta acabei tomando uma garrafa de whisky, o fim da noite eu não me lembro, mas me disseram
que eu tentei arrancar a roupa dele, e que a namorada "compreensiva",
chorou e foi embora correndo na chuva com seu vestido branco e ele foi
atrás e provavelmente eu devo ter proporcionada a melhor noite de sexo
na chuva que os dois já tiveram em toda as suas felizes e iluminadas
vidas.
Então estava eu, no hospital dia 25 de dezembro, exalando álcool,
quando dou por mim e vejo um homem rindo da minha conversa com as
meninas, na maca ao lado. Bem , o homem ria de mim até eu perguntar qual a razão que o tinha levado até alí na noite de natal. Ele parou de rir, resmungou e me chamou de mal- humorada.
Eu voltava para casa, sozinha, de táxi. É muito deprimente sair do hospital sozinha, o babaca que estava rindo da minha cara, o Alex, estava saindo também, eu ofereci uma carona e ele aceitou.
No táxi ele me contou que tinha tido uma bruta diarréia, por causa de
umas rabanadas que ele havia comido e passou um mal danado, mas como
ele era um ex- cheirador, todo mundo estava achando que ele estava era
dando uns tecos no banheiro, expulsaram ele da festa de natal!
Nossa! ser expulso injustamente de uma festa de natal era realmente
deprimente. Eu não devia mas o convidei para subir, Alex era divertido
e desprovido de falsa modéstia e moralismo. Ele era um fracassado, mas
era o meu fracassado, ele vivia com mil mulheres e inventava as piores
desculpas do mundo. Ele era péssimo... mas era meu! quando ele me deixou. Todos me deixam.
Eu estava morrendo de raiva dele, mas não estava acabada, magoada, eu estava... aliviada e ciente de que eu morreria de saudades daquele fracassado que curou todas as minhas mágoas.

O tempo de Maya

Tudo começou quando eu, Lara Souza, achei no lixo o diário de Dona Maya Orlan, minha vizinha, que faleceu de velhice aos 101 anos de idade.

Mas antes de falar do diário eu tenho que explicar como era a D. Maya e vai ser rápido: Dona Maya aparentemente viveu sozinha a vida toda, não constiuiu família, trabalhou a vida inteira numa estatal, aposentou e aparentemente não manteve nenhum laço com nenhum colega nem com nenhum vizinho também.

Isso era o que eu sabia até ler o diário.

O diário começa assim: “Estes são os registros da vida atrapalhada de Maya - aquela que Deus esqueceu na terra a mercê do tempo”.

Mas o que chamou minha atenção foi uma parte do diário que estava desenhada, era um relógio, no centro tinha um Deus , eu acho que era Cronos e ele estava derretendo...nas páginas seguintes ela disse que tinha descoberto a grande cilada divina.


Ela acreditava que Deus teria colocado ela no mundo por engano, devido a algum tipo de erro ele a deixou cair na dimensão errada. Ela escreveu: “Eu me sinto como alguém que anda enquanto a esteira corre. Estou ciente de que sempre vou cair... fail! seria o termo ideal.”

No início eu fiquei muito deprimida com o diário mas eu tinha que saber mais dessa história de tempo.

Ela assumia que todos os fracassos da sua vida eram resultados do acidente divino, citava algumas mortes prematura ocorridas na família, a sua falta de sociabilidade e ainda a perda de um amor como prova da sua teoria, mas sem citar nomes ou relatar os fatos. Isso me deixou um tanto curiosa quem teve a morte prematura? quem terá sido esse amor?

Eu procurei registros da família Orlan, o único que apareceu foi relacionada a um homem que hoje é nome de rua, Francisco Orlan um médico que ajudou muito as pessoas e viveu muito... dizem que ele viveu até os 115 anos de idade, morreu sem deixar filhos acabando com a linhagem. De onde então teria vindo a linhagem dela? No diário, mais pra frente, ela cita o encontro com um homem que se dizia Orlan também, embora seus pais não o conhecessem, ela teve medo.

Escreveu Maya “... ele disse coisas sobre o tempo, relacionada com a minha família, que naquela época eu não sabia da importância que teria e nem parei para escutá-lo. No final, antes dos meus pais o afastarem de mim, eu me lembro de ouvi-lo gritar: Eu não sabia da sua existência achei que eu acabaria com toda essa merda... por favor dê um fim nisso e me perdôe.
Estava acabando a era dele, que tentou me avisar antes que começasse a minha.”

Foi exatamente nesse momento que eu temi ler o final eu já estava acreditando, que realmente ela tinha sido esquecida numa dimensão errada. Continuei lendo... “Logo eu percebi que deveria ficar sozinha, mas aquele rapaz, era de uma simpatia tão grande comigo, até o fim dos seus dias ele manteve o mesmo carinho e cortesia comigo, e mais uma vez o tempo me auxiliou a ficar sozinha e acabar com aquilo que aquele homem tinha dito para eu encerrar há anos".

Naquela tarde eu tentei mais uma busca por informações sobre a família Orlan e desta vez eu achei um artigo de jornal que comentava sobre um crime, uma mulher que dopou e manteve o marido com as pernas quebradas, amarrado na cama, até a morte dele e se entregou para polícia. Essa mulher era a minha falecida vizinha, Maya, que depois de vinte anos, internada, numa clínica para doentes mentais passou seus últimos dez anos morando na frente da minha casa até morrer de velhice.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Lajotinha day... again!!!

Eu olhei pra tela, deu uma espreguiçada e disse pra mim mesma, em voz baixa, não tão baixa quanto deveria, mas, enfim, eu disse pra mim mesma: Vamos aos fatos...

Dia da Inauguração do Trapichão (???)

Dia do Dentista

Dia do Macarrão ( isso é bom)

Dia do Sorriso ( isso é coisa de gente que toma ácido)

Dia da Revolução Russa ( capetão!)

Dia de um santo que ninguém conhece

Dia da morte de Richard Harris ( ele fez Harry Potter)

Morre Papus

Dia da fonte dos desejos ( dizem que a Deusa Lua realiza todos os desejos feitos nesse dia)

Dia em que nascemos eu, Picasso e Capistrano de Abreu! ( Hã...)

sexta-feira, outubro 22, 2004

Me, myself and I ...

Lilás morava num lugar muito estranho, era um prédio, mas parecia uma casa com vários quartos, e lá morava todo tipo de gente. Era uma construção arredondada com apartamentos nos cantos e um buraco bem no meio. Nesse buraco tinha um chafariz estragado.

Lilás já não tinha nenhum parente próximo. O mais próximo de um parente que ela tinha era a Dona Regina, uma senhorinha linda. Lilás adorava ela e por vezes passava tardes inteiras conversando, ou lendo com ela.

Regina era uma comuna invicta com todos os argumentos vermelhos que uma boa comuna deve ter. Ela tinha tido uma vida imensa, falava horas sobre tudo o que já tinha feito na vida, e ela realmente já tinha feitos coisas incríveis, só não contava como havia chegado alí e Lilás não tinha coragem de perguntar.

As visitas que Lilás fazia a casa dela aconteciam sempre da mesma forma. Regina sempre parava na porta e dava uma volta, pedia um segundo, ia até a radiola, colocava o mesmo disco da Billie e cantava ... me, myself and I...ela cantava sorrindo e dançava a doçura que aquela música despertava nela. Em seguida começava a tocar “Georgia on my mind” e Regina se portava de acordo com a música, sentava, com uma tristeza elegante, e acendia um cigarro.

Lilás adorava isso e só entrava em cena quando Regina perguntava: - me acompanha? E enchia o copo de bourbon até a boca, acabando com a elegância e soltando uma longa risada.

A tarde corria com discussões sobre poesia, música e política. Regina era uma senhora desbocadíssima e por vezes corria pra janela e gritava : “ Homens de terno, prestem atenção na diferença entre uma prisão de ventre e uma saída bloqueada... colocaram no seus cus mas vocês nem se deram conta. Isso aconteceu na mesma hora em que vocês estavam tentando colocar no cu de outrem. Marrons! vocês são todos uns marrons!

E completava só para Lilás... “ marron é uma cor tão sem graça, chega a me dar náuseas”... Corria para o banheiro, vomitava e dormia.

Lilás ia embora para casa um tanto atormentada pela bebida, no caminho ela ia pensando sobre qual seria o intrigante caminho que levou Regina àquela vida, se perguntava ainda se não estaria próxima demais do percursso feito por ela e se no caso ela teria condições de viver tão plenamente como vivia Regina. Lilás chorava ao pensar nisso e falava sozinha com o intuito de se aproximar tanto do ridículo ao ponto de não ter mais medo dele. Ela chorava e sorria para desconhecidos pensando qual seria a música que ela cantaria com saudade.


quinta-feira, outubro 14, 2004

De presente pra mim

E então eu bati os olhos em você
e de tão relapso
ao invés de continuar a te ver
bati com a cara no cinza chapado do chão.

Olhei pra cima, ferido somente no ego
e tentei ver a cena. Será que tinha lhe causada algum frisson?
se repúdio, graça ou pena...
aquela desgraça deveria me servir para ao menos chamar sua atenção

Mas o maldito acaso você olhou para o lado.
não sei se me viu... se viu minha queda na verdade
sei que mais uma vez eu gostaria de não precisar desses artifícios
mas como ainda preciso, devido a minha timidez, cairei novamente.
desta vez na sua frente com rosas na mão e o olhar mais perdido que eu
puder lhe lançar

Ah!!! você não há de me ignorar
quero que você sinta
mesmo que seja com raiva ou, como você sentiria uma piada
quero que você sinta
eu ficarei satisfeito se conseguir alterar ao menos o curso do seu caminho

terça-feira, outubro 05, 2004

O Beco -


Ana vivia numa pequena vila onde todos se conheciam mais do que gostariam. Onde uma vez por ano acontecia algum escândalo e alguém se mudava às pressas. Feliz daqueles que se mudavam.

Ana andava pelas ruas arrastando os sapatos nas pedras lisas e gostava disso. Ela percorria seu caminho de ida sem se distrair com vitrines mas voltava olhando uma por uma. Parava no café, comia um bom pedaço de torta de chocolate e bebia uma xícara de chocolate quente. Depois da sua orgia alimentar diária ela seguia seu caminho de retorno para a casa.

O único momento de desgosto para Ana durante o dia era quando ela tinha que passar pelo beco que levava à sua casa. Mas não tinha outro caminho.

O beco era extenso e apertado, tinha apenas uma janela e uma porta de um estabelecimento mau freqüentado, diziam que alí se praticava de tudo: desde sexo sujo até magia envolvendo sacrifícios de animais. Dava medo e fedia.
Mas ninguém assumia essa possibilidade. Só corria mesmo à boca miúda.

Ana continuava seu caminho, bem na metade do beco, onde já não se via as luzes da entrada nem as da saída, bem no meio, longe também da porta e da janela, Ana vê um estranho. pára por um segundo mas continua ao perceber o olhar de deboche do estranho diante do seu desmascarado medo.

Passando pelo estranho que era um sujeito realmente estranho com a pele de um tom de branco quase transparente, olhos amarelos , grandes olheiras roxas, machucados que pareciam que nunca mais iriam sarar nos cantos da boca, e corpo de uma magreza cadavérica. Bem... passando pelo estranho ela escuta ele dizer: - O som dos seus passos sempre estão a me guiar. Puxa! quando você vai aprender?

Ela se sentiu tonta de medo como se aquelas palavras fossem na verdade ameaças de uma morte dolorosa e familiar.

Ele continuava dizendo... - Vou para sua casa sei que você não me dirá não. Apesar de ser o mais certo. A cada vez me dedica um sentimento forte o bastante para me levar para casa não é mesmo?

É engraçado que até o medo seja um motivo para tal. Criança acorde! eu preciso ir dormir...mas vamos que por hora eu terei que me contentar em apenas deitar-me. Vamos!

Ela tremia e não conseguia dizer uma só palavra. Ele parecia minar suas energias.
O tempo passou e o estranho permanecia na casa de Ana. Nada era como antes, a cidade estava suja e Ana também.


Certa vez ela decidiu tentar pedir que ele fosse embora de sua casa mas ela olhava pra ele e só conseguia chorar. Então Ana apelou para medidas mais radicais, decidiu cavar um buraco num velho campinho que não era usado mais, colheu alguns cogumelos venenosos e preparou-lhe um chá com cogumelos e baunilha. Em seguida serviu ao estranho, que bebia olhando com indignação para ela, enquanto desfalecia o estranho repetia: - Criança como pode repetir insistentemente a mesma ação. Não lhe dói as mãos?

Ela só assistia o assassinato ser consumado sem ser desperdiçado uma gota sequer da bebida fatal.

O estranho tombou e aparentemente tudo voltava ao normal o ar já estava mais leve. Ana completou o trabalho, enterrou o cadáver e voltou para casa se certificando de que realmente não havia maneira menos drástica que aquela.

Ana passou novamente pelo beco, com a intenção de zombar da situação, só não esperava ver alí, exatamente no mesmo lugar, o mesmo estranho agora um pouco mais enfurecido. Ele olhou para ela, ele babava e dizia: - Criança como pode ser tão incompetente assim? me responda. Eu já disse que eu preciso dormir... Mas você sempre faz isso. Ok, vamos lá....
Ele deu uma porretada na cabeça dela fazendo a desmaiar e quando Ana acordou ouviu um estranho dizer: - Puxa! quando você vai aprender? resmungou ...agora não importa mais. Vamos tentar de novo.


Dedicado ao Bruno Amarred.
Autor da foto.

terça-feira, setembro 28, 2004

Estômago revirado

Continuo com sede

e assim devo continuar

Me bateu uma preguiça.


Deturpo os sonetos

e também os Hai-Kais

é que me bate uma preguiça.



Para quê redondilhas alexandrinas?

se as bagunças Mirianas

são bem mais divertidas.


E o acaso?

iria eu! dispensar o acaso?

Jamais. Eu respondi.


Acordei meio punk?

acordei espancada.

se é que dormi!


Bela adormecida? ou

a insône que tomou um lexotan? ou

a vadia que culpou a pobre bruxa?


Tudo é uma questão de visão

Se turva ou perfeita...

depende do estômago de quem vê.

sexta-feira, setembro 24, 2004

Soneto do tormento

Giro em torno da inércia
A sombra que se movimenta
A água que não espelha mais
Os olhos que já umedecidos nada enxergam

Giro em torno da inércia
Trago para mim toda a exatidão
Ofereço o grito que rompe o silêncio


As águas estão musicadas
As sombras dançam iluminadas
Iluminadas como só a música poderia fazê-las
Assim eu me ofereço




quinta-feira, agosto 19, 2004

O peso da velhice ou Lajotinha Day

...

Eu olhei pra tela, deu uma espreguiçada e disse pra mim mesma, em voz baixa, não tão baixa quanto deveria, mas, enfim, eu disse pra mim mesma: Vamos aos fatos...

Dia da Inauguração do Trapichão (???)

Dia do Dentista

Dia do Macarrão ( isso é bom)

Dia do Sorriso ( isso é coisa de gente que toma ácido)

Dia da Revolução Russa ( capetão!)

Dia de um santo que ninguém conhece

Dia da morte de Richard Harris ( ele fez Harry Potter)

Dia da fonte dos desejos ( dizem que a Deusa Lua realiza todos os desejos feitos nesse dia)

Dia em que nascemos eu, Picasso e Capistrano de Abreu! ( Hã...)


quinta-feira, agosto 12, 2004

A sina de Clementina.

Esse é o caso da menina lá de perto

Da filha do maneco que era atrevida

A menina não sabia as leis de Deus

Com quinze se perdeu aos vinte caiu na vida.


A menina, clementina se chamava.

E dizia que amar com o corpo era sua sina

Os moleques, lá da vila Eduardo, o dia inteiro se esbaldavam na sina de clementina

Mas maneco ficava aperriado, mas não convência a filha que aquilo já não procedia.


Clementina, lá no fim da vida,

Com a sina já cumprida

foi consagrada padroeira das vaquinhas e dos meninos.

Uns por conseguir mantêr e outros por perder a virgindade

Tudo graças a sina da bondosa e também harmoniosa Clementiiiiiiina.


Sweet

Eu não vim pra ficar e nem vou me demorar...

Eu só vim pra saber como anda você,

O que atualmente você gosta de ler, quais músicas te fazem sonhar.

De fato eu só quero saber quais lembranças levar de você.

quarta-feira, agosto 11, 2004

As filhas da Falecida.

Uma menina nova com o olhar maduro, devia ser uma alma antiga, não se desprendia daquilo que já foi vivido, devia ter uma boa memória... Deve ter sido duro viver nessas condições.


Para Zilah o mundo parecia ser mais rude, ela mesma era rude, ossos rígidos, postura rígida, olhos abertos, sempre atentos, nunca pega de surpresa geralmente supreendia.

Zilah podia andar sem ser percebida, por vezes, na venda, sua presença irritava a balconista, que distraída com o rádio, nem se dava conta de que ela a observava esperando por ser atendida.

Bem, apesar de passar quase despercebida, Zilah ainda conseguia ser detestada, haviam aqueles que se irritavam com o jeito de ser dela e eles não eram poucos... principalmente as crianças e os adolescentes.


Zilah continuava da mesma forma já Zélia, a irmã mais nova, parecia ter ganho toda a beleza e simpatia que Zilah fora privada. A menina crescia brilhante como o sol. "Os outros", da rua de cima, onde as casas tinham escadas, viam Zélia de longe e comentavam que uma criança daquelas não deveria ter nascido em berço de palha.

Aconteceu que quando o fogo comeu a casa delas, levando a mãe das meninas, pra onde os anjos dizem amém. Zilah salvou a irmã, que gritava, desesperada tentando salvar a mãe desmaiada.

Zélia era realmente uma graça e na condição de orfã não permaneceu por muito tempo.

Um casal, da rua de cima, que já andava de olho nela, adotou a criança logo que souberam da desgraça. Zilah foi também, por sorte, eles estavam procurando alguém para cuidar dos cachorros e se tinha algo no mundo que Zilah se dava bem era com os cães.

Partiu, então Zilah e Zélia, cada uma para o seu quarto de direito... Zélia pra cima das escadas e Zilah pra debaixo das escadas... Mas ela não se importava, ela podia ficar alí junto com os cães, sem ter que falar com ninguém, dando só bom dia e boa tarde, já não precisava mais ir a escola e seu ciclo social se resumia aos cachorros e a empregada que lhe levava as refeições.


Anos a fio se passaram, Zélia tinha se tornado a mais bela das jovens da rua de cima, escolhia entre cinco jovens, belos e ricos, quem seria o felizardo que se casaria com ela.

Zélia como já se esperava escolheu o mais bondoso para o matrimônio.

No primeiro dia em sua casa nova, Zélia ficou sabendo que Zilah fora supreendida espiando a festa de seu casamento e por isso foi expulsa do canil de seus pais adotivos.

Eduardo o bondoso rapaz com que Zélia se casou ouviu a história e vendo o tormento que caia sobre os olhos da esposa, saiu imediatamente a procura de Zilah, que foi encontrada, dias depois, perto da casa queimada na rua de baixo...

Zélia contou toda a história do incêndio... como ele havia começado, a mãe que morrera tentado apagar o fogo com as mãos e como a irmã racionalmente havia tirado ela de lá salvando lhe a vida!

Zilah, agora salvadora, tinha lugar especial na casa, tiraram lhe todas as pugas do cabelo e do corpo e arrumaram um baile pra apresentá-la aos "outros" da rua de cima. Foi oferecido um dote para ela, que não era mais a "Zilah dos cachorros"e assim se casou com um senhor que procurava uma mulher saudável e que pudesse ter filhos fortes.

Assim foi que Zilah teve seu único filho, João Eduardo, em homenagem ao bondoso cunhado.

Ela educou e cuidou com carinho de João Eduardo, que, eu acredito, tenha sido o único ser humano que tenha amado Zilah de verdade.

Mas por alguma ironia cruel do destino, o fogo comeu novamente a casa de Zilah, levando para onde os anjos dizem amém, também seu filho e o marido.

Zélia foi logo em ajuda da irmã, mas Zilah no dia seguinte ao incêndio sumiu, sendo encontrada dias depois no canil da casa onde haviam crescido ela e Zélia.

Lá ela permaneceu até morrer. Afirmando que lá tinha nascido e de lá nunca havia saído.




terça-feira, agosto 03, 2004

Prato principal

Obs: Este é sobre mim e é pro Leco!

Amo aquele que tem gosto daquilo que eu mais gosto
Busco o cheiro do gosto quando ele não está por perto.
Busco em mim.
Amo e como gosto de gostar de ti!
Trouxe você para mim como quem traz o melhor fruto
O que mais apetece.
Mas não o como o conservo
A espera é menos dolorosa que o fim.
Por isso o cheiro o observo e imagino como seria bom comê-lo.

sexta-feira, julho 16, 2004

Sem mais para o momento

Solta a verborréia que eu quero só dizer.

Não tomarei de fino vocabulário para que dê credito ao que digo.

Escuta como se fosse sua mãe quem diz.

Me dê atenção como se eu estivesse dizendo algo que lhe vá servir de salvação algum dia.

Prefira os meus olhos aos meu lábios, que expressão é fundamental a reza.

Não questione tente enxergar a verdade no que digo ao menos enquanto digo.

Depois pode se esquecer o que eu preciso mesmo é dizer.

segunda-feira, julho 12, 2004

A vingança da carola

Como não matar! Mato sim, matei uma vez e mato de novo!
Eu se fosse você me prenderia e jogava a chave fora. Eu se fosse você teria medo de mim.
Que estou aqui única e exclusivamente para acertar as minhas contas.
Mas a senhora nunca havia matado ninguém antes!!!!
Exatamente... Mas agora que eu matei, eu mato! mato mesmo! Chega de tanta putaria nessa vida.
Esse povo tem que morrer doutor e o senhor também e quer saber do que mais? Eu só não me mato por ainda ter muito o que fazer, depois que tiver matado um bocado de miseráveis por aí eu me mato também.
Ninguém mais é cristão doutor, cristo morreu por uma raça podre, uma mãe viu seu filho sofrer, como um cão, por um monte de excremento.
E mesmo eu doutor, que fui criada quase dentro de uma igreja, devota, não posso me excluir desse monte.
Vou matar sim !!!! Se possível for, eu mato tudo, mato todos!!!!
Vou devolver o sangue que Deus derramou por mim.
Eu não gosto de dívidas!

quinta-feira, julho 08, 2004

Deus que me livre!

Aquilo tudo que eu dizia para ele parecia desviar de seus ouvidos

Eu falava, gritava, balbuciava e nada, ele me ignorava veêmente. Olhava para mim, no fundo dos meus olhos e não dizia nada. Eu me calei. E então ele disse:
- Você tem um cigarro aí?
A voz grave saiu alto. Eu dei um pulo, já estava acostumada com o silêncio, ele ainda me olhava esperando a resposta. Eu abri a bolsa e dei o cigarro.

Ele acendeu e começou a falar sobre como era bom fumar um cigarro em situações como aquela, me ofereceu um trago e disse que quando estava na china não haviam cigarros tão bons como aqui. Eu nem sabia que antes ele havia estado na China.

E ele continuava falando... Muitos dedos amarelam por causa do cigarro mas não os meus... Sente a sensação! Se você puxar devagar você se sentirá mais leve...sabe que o meu cigarro preferido é o Free! Ele quase não deixa odor, apesar de que o cheiro que fica no seu cabelo e tão agradável, dever ser por causa da mistura com o shampoo que você usa... e mais devaneios sobre a porra do cigarro.

Enquanto ele falava em pensava seriamente em parar de fumar. E sobre como eu tinha o péssimo hábito de me envolver com sujeitos estranhos, mas que de todos esse era o pior.

A princípio me parecia o mais normal. Dedo podre esse meu.
Analisando o meu histórico de namorados...

Vamos pelo primeiro, João, quinze anos,garoto desprovido de beleza, mas extremamente carismático,cuidadoso, atencioso. Me ligava de meia em meia hora para saber se eu ainda o amava ou se estava me sentindo bem... Era um rapaz muito preocupado, e sofria de todos os males possíveis, coitado morreu cedo,com dezoito anos.

Tadeu, o segundo, lindo de morrer e sabia disso, se olhava no espelho, fazia biquinho piscava e mandava beijos pra ele mesmo, certa vez, na hora H, eu pego o cara passando a mão na própria bunda, como se já não bastasse o cara gozar mordendo a minha cabeça.

E por último, Felipe, filho da Dona Firmina, muito bacana, mas não tocava meu seios por nada, em hipótese alguma, dizia ele que aquilo era um ato maternal e não sexual, que os seios proviam o alimento e que não deviam ser maculados, e por fim ele me soltou o fatídico argumento. Me vira o sujeito e diz que os meus seios faziam ele se lembrar da mãe, a Dona Firmina.
Deus que desespero! Isso deprime de verdade.

E por fim me vêm esse louco, Matheus, que não parou de falar sobre cigarros até agora!
A única conclusão que eu tiro de toda essa minha catastrófica trajetória é que realmente eu não deveria mais me relacionar com homens cujos nomes sejam de apóstolos. Eles são todos uns insanos.

quinta-feira, junho 24, 2004

A grata lembrança

Depois de tudo, eu me perguntei: qual foi o momento exato em que me esqueci o que se tivesse lembrado não haveria você?
Antes mesmo de pensar em assumir toda a culpa pela estupidez cometida, recordei de tudo aquilo, que, mesmo hoje, não poderia ser chamado assim.
Depois de me lembrar de você, esqueci minha sentença, e me dei por satisfeita.
Mesmo estando agora em situação pouco vantajosa, um momento antes eu fui feliz.
E como só é possível a morte por causa da vida, aceito o entristecer mas espero pela alegria que a tempo há de aparecer mais uma vez.

quarta-feira, junho 16, 2004

Hey Ho Lets Go!

Eu só quero encharcar a minha cara de não ter o que fazer
Eu quero escutar músicas com no máximo três acordes
Eu quero cantar uma música alto e sem afinação
E quero dançar sem ritmo, sem olhar pros lados.
E quero parecer louca e ganhar sua piedade.
Sejam piedosos e me deixem ser ridícula.


sexta-feira, maio 28, 2004

E disse Nélida

Então que me deixem envelhecer.
Com ironia, quero que me vejam envergar.
Sem pudor, a cada ruga uma história mal contada
Sem moral e com a pele flácida.
Com todo cigarro fumado estampado nos dentes
Com toda bebida ingerida zombando do fígado
Me deixem deteriorar
Porque a Nelida disse que "Só envelhece quem vive"
Então para não morrer jovem
Me deixem madurar

quinta-feira, maio 27, 2004

A sina de Josefine


Josefine era uma mulher que prezava, acima de tudo, por um bom e breve acompanhante.
Livre de preconceitos, Josefine, se deitava com quem a fizesse se sentir bela e excitada.

Vivia á procura, porém sem se exaltar, a discrição era o ponto forte de Josefine, pelo menos enquanto sua embriaquez estivesse sobre controle o que as vezes Josefine perdia, mas o resultado disso, em respeito a sua memória, não será exposto aqui.

A vida social de Josefine se resumia a um punhado de caras e corpos conhecidos.
Sem sentimentos ou qualquer interesse pela vida particular dos seus parceiros, ela vivia sem qualquer interesse diferente ao sexo.

Como um drogado que se prepara de picada em picada para a próxima, Josefine se preparava de noite em noite para o próximo.
Cuidava muito da aparência, vivia impecávelmente vestida, era facilmente querida, por isso vivia feliz.
Josefine tinha um objetivo diário que se cumpria com louvor todos os dias.

“Foras” ela já havia tomado alguns, mas nenhum traumatizante, ou que a fizesse deixar de cumprir com seu objetivo, ela sempre , conseguia “alocar” outro “recurso” a tempo.

Mas a vida por si só dá seus solavancos, há quem pense que a vida não nos reserva surpresas... Josefine era uma dessas, até o fatídico dia em que nenhum de seus “corpos e caras conhecidas ” apareceu.

Josefine tinha somente uma preocupação, ela procurava frequentar sempre os mesmos lugares para familiarizar com as pessoas, assim ela só se relacionava com aqueles que tivessem “referências” Josefine era criteriosa com isso... Ela não podia cair na armadilha de uma noite frustrada, isso seria o fim,acabaria com toda a preparação de um dia inteiro, romperia uma cadeia. Impensável.

Acontece que nesse dia, os locais de costume estavam todos fechados e Josefine se viu abandonada,triste.
Fazia tempo que isso não acontecia e não havia outra alternativa senão passar essa noite sozinha, sem nenhuma companhia.
Mas antes que chegasse o Táxi, que a levasse para seu triste destino, um homem se aproximou perguntando as horas, ela nunca o tinha visto antes, mas pensou que aquele era realmente um conjunto harmônico, e ainda sem responder a pergunta feita pelo desconhecido, constatou que voltando para casa ela já estaria fora dos padrões...
Então se adiantou e disse: - Hora de você me acompanhar.
O homem sorriu dizendo que aquele não era o melhor momento.Josefine não podia perder essa, aquela definitivamente não era o melhor momento para levar um fora.
A sua meta diária que formaria uma anual estava em jogo, era uma questão de princípios... ela sorriu segurando o nervossísmo e disse: - Ora,eu não fiz uma pergunta, dei a você uma resposta, indiquei o caminho, não é sempre que você é privado do aborrecimento da dúvida.
Dito isso, parou um táxi que passava e entrou sem virar para o estranho, abriu a porta e esperou, pouco, por ele entrar.
Alívio! Ela nunca esteve com tão pouco controle da situação. Mas, de fato, estava a caminho de cumprir sua meta.
Não fosse o estranho um exigente, exigia atenção, exigia carinho, lançava olhares doces e fazia afagos, coisas que Josefine dispensava veêmente, porém se viu obrigada a fazer...
Mas Josefine cumpriu sua meta, não da forma ideal, ela se sentia entorpecida com todo aquela entrega do estranho, ele agia como se ela o tivesse parido.
Tudo aquilo confundia Josefine, ela sempre fora fria com seus companheiros,e todos sabiam da sua conduta.Aquele homem a tinha enganado... Pela manhã, olhou para ela como se fosse a única no mundo e trouxe café, foi embora dizendo que ligava mais tarde.
Josefine morreu.
Ainda pela manhã, engasgou com uma bala, deixada pelo estranho, que estava ainda tentando decifrar.
Uma morte estranha...Muitos dizem que Josefine havia cumprido afinal sua sina na terra e por falta do que viver.
Morreu!

terça-feira, maio 11, 2004

Olhar sobre a distância

Quando eu cheguei todos olhavam ansiosos por algo que os fizesse lembrar da pessoa que havia há dez anos atrás feito o caminho inverso ao que hoje me trazia aqui.

Talvez por defesa todos me olhavam sem dizer uma palavra, eu disse oi á minha irmã, rompendo o silêncio, ela me respondeu parecendo ignorar a distância que nos separou esses dez anos, me respondeu com um abraço, se afastando em seguida para que outros derramassem lágrimas de saudades ou dissessem o quanto eu havia engordado ou emagrecido.

Chegando em casa tudo me pareceu muito etéreo e por um segundo eu me dei conta do que havia perdido com a minha partida, as coisas mudaram, sem meu conhecimento ou aprovação.
As coisas se deterioraram, coisas que eu julgava eternas acabaram, inclusive as pessoas.

Um grande esforço seria necessário para adaptar meus olhos aquela nova realidade, que cuidadosamente eu projetava na minha cabeça para nunca esquecer os detalhes que me prendiam, intencionalmente, a este lugar.

Todo o tempo que estive fora me deparava dia-a-dia com novas visões e não me assustava com o fato de acordar em lugares que nunca havia estado antes, mas isso, sim, era vazio me deparar com aquela realidade que uma vez foi tão familiar e aconchegante toda deturpada, era algo que eu não contava e esse tipo de inesperado sempre me pegava desprevinida.

As mudanças não paravam por aí, me atormentava ainda o fato de constatar que aquilo tudo era
um simples reflexo da mudança das pessoas.
Eu que vivi conhecendo desconhecidos tinha agora o desafio de conhecer velhos conhecidos.

Apesar da recepção sem delongas de minha irmã tudo mais que eu julgava familiar nela se perdeu. Se tratava também de um outra pessoa, outra irmã,pensativa, me matava percebê-la vagando no meio de diálogos, ela se ausentava, assim , bem na minha frente, me olhava sem me enxergar.
Crescida de uma infância igual a de toda criança para aquela mulher contemplativa, que causava estranheza nas crianças e nos idosos, às vezes era até engraçado a falta de tato que ela tinha com esses dois grupos, várias foram as perguntas que ela deixava sem resposta ou as piadas sem risadas, que minha irmã julgava não ter obrigação nenhuma de fazê-las.

Os aromas, o calor tudo me deixava cada vez mais desesperançosa. Os amigos, que uma vez foram os mais confiantes, belos e divertidos, dizendo quão imbecis tinham sido e o quanto hoje eles pagavam por isso, arruinados em suas vidas medíocres.
A falta de cordialidade daqueles que somente de vista eu conheci mas mesmo eles estavam também em minha memória. As novidades pareciam não ter mais fim.

Ah! como eu sinto por mim, que deixei me iludir pela capacidade de arquivo da minha memória, seria possível que tudo tivesse mudado tanto, ou seria eu, que me iludi com minha romântica saudade, fantasiando essas pessoas da forma em que melhor me acolhiam.

Ah! como eu sinto , se soubesse que perderia minha casa e meus amigos com esse retorno manteria todos eternos na distância

sexta-feira, abril 16, 2004

hai kai

Assim que se foda
se assim queres
assim o farei

Hai Kai

Contudo
Sobrou pra mim
Quase nada

Hai Kai

Prato feito
Frustra a fome
E o paladar

Hai Kai

Ainda que contínuo
Interrompido
Foi o caminho

Hai Kai

Ora se pudesse,
teria feito,
não querido.

quarta-feira, abril 14, 2004

O funeral de Gregório


Em minha vida não me canso nunca de procurar
vestígios do que um dia fez o poeta chorar.
Onde estão as razões para continuar?
Quero tempo para procurar o que um dia fez o poeta chorar.
Onde cantas sabiá ? Eu não consigo escutar
Ondes estão as palmeiras desse lugar?
Onde está em mim esse sentimento? Eu não consigo encontrar.
Talvez no fundo de um rio que eu não queira nadar.
Descobrir essa discórdia, me deparar com o fato de não enxergar.
Aquilo que está lá, bem na minha frente, um belo que eu não sei apreciar.



terça-feira, março 23, 2004

Pára-tudo









Para aquilo que não se disse mas deveria ter sido dito. Um eterno nó
Para o que não devia ser dito mas foi. Uma lingua maior que a boca
Para os que dizem o que deve ser dito. Uma careta
Para os que nada dizem, mesmo tendo muito a dizer. Corda
Para os que dizem muito, mesmo sem ter o que dizer. Ouvidos
Para os que dizem, dizem, dizem e dizem mais ainda. Botão de mute.
Pára tudo. cala-te e escuta.
shiiiiii...



A caridade da faladeira



Vinha gente de todo canto para almoçar na minha casa, e todas as vezes que mãe fazia esses almoços as coisas do dia-a dia aconteciam diferentes, mas diferente igual a todo dia diferente, sabe o que eu tô falando, eu sabia que a rotina seria diferente, mas já conhecia como seria o diferente, assim como o prato especial, eu já sabia qual era também, era pernil com farofa, mas não aquela farofa, uma farofa especial daquelas que tem passas e presunto dentro sabe, pois é, mas o mais legal era a roupa que eu podia usar, só nos dias diferentes, isso era o máximo, eu podia até brincar com aquela roupa chic de ir na missa, só o cabelo que eu não gostava, pois me apertavam tanto o laço que doía a cabeça, eu dizia a minha mãe e ela nunca que afroxava, dizia que se não fosse assim dali um tempo eu estaria igual a uma louca, que mora lá na rua perto de casa, então eu deixava, porque igual a louca eu não queria ficar não, todo mundo corre dela e ela é muito fedorenta, ninguém quer ficar igual a louca, não é verdade, quando você pergunta pra alguém o que ele quer ser quando crescer ninguém responde louca da rua, todo mundo responde, doutor.
Eu também não quero ser doutor, quero ser enfermeira, que eu acho muito mais bonito, ser enfermeira que ser médico, a minha tia era enfermeira, mas ela morreu, minha mãe me disse, com muita raiva, que ela morreu de desgosto que o marido dela que tinha matado ela, mas eu achei estranho, pois ele não foi para cadeia, e quem mata vai para cadeia, eu vi no jornal um homem que foi para a cadeia, ladrão também vai, um dia um ladrão entrou na minha casa, era páscoa e eu tinha ganho uma porção de ovos, você acredita que o esganado do ladrão roubou todos os meus ovos? Ele levou todos, não deixou nada para mim, mas a minha mãe disse, que iam pegar ele e então iam prender ele na cadeia, e disse que lá não tem banheiro, e ele ia ter caganeira num lugar sem banheiro, eu pensei comigo, será que o ladrão me poupou de ter uma terrivel caganeira,eu ia comer todos os ovos que ele comeu, sendo assim por acaso ou não ele não é pessoa tão ruim, acho que eu deveria pelo menos levar um papel higiênico até a cadeia.
Por caridade né.

Maldito acaso




Eu nunca havia pensado que aconteceria assim, de todas as vezes que imaginei essa situação, nunca havia sido da maneira, como de fato aconteceu.
Eu acordei naquele dia, antes da hora programada no despertador, e por isso, tive tempo para pensar um pouco antes de sair, fiquei lá, sentada na beira da cama, pensando abobrinhas. Eu não pensaria na vida, minha vida é corrida e breve, eu poderia me apresentar em poucos segundos, mas é tão sem graça, a minha vida, que eu prefiro poupá- los disso.
Bem, saí de casa para ir trabalhar como de costume, passando pelos mesmos lugares, sem mudar um passo na trajetória, até que sem explicação, levei um banho de água suja, um carro, passando em cima de uma poça, me fez este favor. Ò t i m o, nada pior poderia acontecer na vida de uma pessoa que calcula por minutos as suas ações, como eu faço, o que eu faria? Eu realmente não sabia, não tinha idéia, olhei para o chão e chorei, por horas a fio, eu não poderia ir para o trabalho daquele jeito, eu estava fedendo. Não poderia ir para casa, eu estava humilhada e quanto mais tempo eu ficava parada alí, mais se distanciava de mim a possibilidade de voltar ao curso normal das coisas, a vida simplificada que eu pensava levar, me proporcionava ter controle sobre ela, mas isso eu não contava que aconteceria, já estava anoitecendo e eu continuava lá, chorando e sentada no meio fio, até que me faltaram lágrimas para continuar e eu fiquei lá, agora, olhando as pessoas passando, algumas paravam falavam comigo, outras até me jogavam moedas.
Foi assim que eu passei a ser um ponto de referência, conheço todo mundo que passa, e me divirto com suas distraídas esquisitices, elas, as vezes, falam comigo, me pedem informações.A questão é que eu consegui uma nova rotina, e essa dificilmente será corrompida. Nela me manterei até que o acaso me pegue outra vez.

O Hóspede




Estava frio e ventava muito... de longe podia-se enxergar uma casinha velha, que naquela situação parecia bem aconchegante, ela ficava bem no alto, pensei um pouco antes de me aventurar até lá, pois era uma caminhada que só atrapalharia se eu não pudesse descansar um pouco. Por fim eu fui, chegando lá, bati na porta e uma criança mal encarada me recebeu e gritou para um adulto lá de dentro, - Outro viajante pedindo guarita. Alguns resmungos depois, a criança me mandou entrar e sentar perto da lareira. Pouco tempo depois vieram os cachorros, fedidos e raivosos, ficaram a me vigiar enquanto se aproximava o dono da casa que me olhava com ar superior, ao sentir meu medo diantes das duas betas caninas, aquilo era uma vitória pra ele. Eu tentei brincar com os cachorros e ele gritou: - Ei sujeito não posso crêr que você seja imbecil a esse ponto, mas se quiser continue a brincar com os animais, já faz tempo que eles estão precisando de um pouco de diversão mesmo.
Eu me virei e pedi desculpas e disse que já estava saindo ( já estava cansado daquela hospitalidade toda) e então ele gargalhou alto e disse na minha cara:
Você é um sujeitinho muito burro mesmo, basta você pôr o pé na porta para um urso vir e acabar com você, sendo assim é preferível deixar que os cães o façam.
Eu recuei e perguntei pra ele qual era o problema, pq tinha me deixado entrar se fosse pra demonstrar tamanha hostilidade? E então ele disse:
Eu estou te fazendo um imenso favor, estou salvando sua vida, sem nem conhecer você, como um bom cristão faria, disse olhando para uma velha imagem.
Não reparou que a sua vida está nas minhas mãos??? olha pros lados, quem mais poderia ajuda-lo, ninguém, sabe o vermezinho que abriu a porta? Pois é, estava perdido por aqui, eu ajudei, eu sou uma boa alma, como uma boa alma pode ser hostil. Vá dormir homem e trate de não me incomodar mais com sua ingratidão, vou deixar os cães aqui, fazendo companhia. Deu uma risada e saiu... de novo com aquele olhar de prazer ao sentir o meu pavor .
Então eu tinha uma lareira quase no fim, e cães como companheiros. adormeci, durante o sono, muito barulho, gritos histéricos tudo muito estranho, mas por mais força que eu fizesse, eu não conseguia abrir os olhos, tão pouco me levantar, mas escutava esses ruídos como se estivessem na mesma sala, só não era capaz de abrir os olhos, por mais que eu me esforçasse, para evitar o desespero eu parei de tentar, e assim foi até o amanhecer, quando eu me levantei. Não demorei em me preparar para sair, mas algo me fez voltar, eu ainda deveria agradecer o meu anfitrião, procurei por toda a casa e não vi ninguém, nem sinal do velho ou da criança.
Nas paredes de cima somente uma foto, muito antiga, desgastada, onde constavam o homem, e o moleque que abrira a porta, a aparência das pessoas era de uma época muito distante, o que me surpreendeu um pouco, mas no fundo me senti satisfeito por não ter que agradecer ou despedir-me de ninguém, corri e saí dali o mais rápido que pude, a cada passo me sentia menos sufocado, mais perto da civilização, as cores ficavam mais claras e o cheiro menos inebriante. Aquele era um lugar onde eu jamais poria os pés outra vez , e sobre aquelas pessoas eu nunca mais, sequer, pensaria a respeito novamente.