sexta-feira, outubro 29, 2004

Todos os natais

Eu chorava copiosamente e ele estava apenas esperando acabar para se
despedir e ir embora sem se importar com o que seria de mim dali por
diante. Dalí o pintor! eu gosto dele. Pensei... e parei de chorar.

Ele ameaçou me abraçar mas eu me desvencilhei e disse ... - Vai, eu já
acabei! Ele me recriminou com os olhos, eu tive raiva, mas eu ainda o
amava e mal podia acreditar que ele estivesse fazendo aquilo comigo.
Eu só conseguia me lembrar do dia em que agradeci a Deus por estar
do lado do homem que eu amava, eu era uma privilegiada... mas agora
eu era uma largada!
Desde aquela fatídica tarde eu nunca mais tinha o encontrado, não por
falta de esforço, eu fui até a casa dele, mas ele já não morava mais
lá. Nunca mais consegui passar naquela rua.

Chovia, era época de natal, a cidade estava cheia de pessoas,
sininhos, vermelho, dourado e chuva muita chuva o céu estava desabando e as pessoas continuavam felizes com as suasrabanadas...
Na noite de natal, depois da ceia, eu ia para a casa das meninas,
que sempre tinham muita comida, bebida e música ... nada natalinas para
oferecer.

Então era natal e eu fui com a minha carcaça deprimida para lá e quase
babei de nervoso... quando do lado de fora eu vejo ele, aquele que eu
evito pronunciar o nome desde o início deste relato. Ele estava lá, de
todos os lugares que eu achei que pudesse topar com ele por acidente,
alí era o lugar mais improvável, eu estava completamente despreparada.

Eu fique parada no portão, tomando chuva e pensando no que eu iria
fazer, pensava em Dalí, e na dor de barriga que começava. Eu me virei
para ir embora, mas uma das meninas me viu e gritou.

Ele virou, eu disse que só tinha passado para deixar um presente, pedi
que ela viesse até a porta, mas ele saiu e veio falar comigo.
Ele disse oi e eu respondi com um sorriso calado. Entrei,cumprimentei as pessoas e me sentei no canto mais isolado. Mas ele estava disposto a bater papo comigo, jogar conversa fora, eu quase morrendo por dentro, retorcendo os meus orgãos internos e ele jogando conversa fora.

Por fim eu pedi licença e saí. Não antes de lascar um beijo na boca dele. (merda)
No caminho eu chorava mais que naquela tarde e pensava comigo... " como eu pude ir embora e deixa-lo, eu sabia que me arrependeria, mas qual era a razão da figura dele naquela festa, elas eram minhas amigas, que raios ele estava fazendo lá. Teria ido atrás de mim?
Voltei! sim eu voltei para a festa agora segura de mim, tão segura ao ponto de perceber que ele estava lá com outra mulher, mundo pequeno né, e eu beijei a boca dele na frente dela, e ele nos apresentou, e ela foi super compreensiva... Olha a louca, tadinha só estava um pouco desavisada.

Ah! eu precisava tanto de um copo de veneno que na falta acabei tomando uma garrafa de whisky, o fim da noite eu não me lembro, mas me disseram
que eu tentei arrancar a roupa dele, e que a namorada "compreensiva",
chorou e foi embora correndo na chuva com seu vestido branco e ele foi
atrás e provavelmente eu devo ter proporcionada a melhor noite de sexo
na chuva que os dois já tiveram em toda as suas felizes e iluminadas
vidas.
Então estava eu, no hospital dia 25 de dezembro, exalando álcool,
quando dou por mim e vejo um homem rindo da minha conversa com as
meninas, na maca ao lado. Bem , o homem ria de mim até eu perguntar qual a razão que o tinha levado até alí na noite de natal. Ele parou de rir, resmungou e me chamou de mal- humorada.
Eu voltava para casa, sozinha, de táxi. É muito deprimente sair do hospital sozinha, o babaca que estava rindo da minha cara, o Alex, estava saindo também, eu ofereci uma carona e ele aceitou.
No táxi ele me contou que tinha tido uma bruta diarréia, por causa de
umas rabanadas que ele havia comido e passou um mal danado, mas como
ele era um ex- cheirador, todo mundo estava achando que ele estava era
dando uns tecos no banheiro, expulsaram ele da festa de natal!
Nossa! ser expulso injustamente de uma festa de natal era realmente
deprimente. Eu não devia mas o convidei para subir, Alex era divertido
e desprovido de falsa modéstia e moralismo. Ele era um fracassado, mas
era o meu fracassado, ele vivia com mil mulheres e inventava as piores
desculpas do mundo. Ele era péssimo... mas era meu! quando ele me deixou. Todos me deixam.
Eu estava morrendo de raiva dele, mas não estava acabada, magoada, eu estava... aliviada e ciente de que eu morreria de saudades daquele fracassado que curou todas as minhas mágoas.

O tempo de Maya

Tudo começou quando eu, Lara Souza, achei no lixo o diário de Dona Maya Orlan, minha vizinha, que faleceu de velhice aos 101 anos de idade.

Mas antes de falar do diário eu tenho que explicar como era a D. Maya e vai ser rápido: Dona Maya aparentemente viveu sozinha a vida toda, não constiuiu família, trabalhou a vida inteira numa estatal, aposentou e aparentemente não manteve nenhum laço com nenhum colega nem com nenhum vizinho também.

Isso era o que eu sabia até ler o diário.

O diário começa assim: “Estes são os registros da vida atrapalhada de Maya - aquela que Deus esqueceu na terra a mercê do tempo”.

Mas o que chamou minha atenção foi uma parte do diário que estava desenhada, era um relógio, no centro tinha um Deus , eu acho que era Cronos e ele estava derretendo...nas páginas seguintes ela disse que tinha descoberto a grande cilada divina.


Ela acreditava que Deus teria colocado ela no mundo por engano, devido a algum tipo de erro ele a deixou cair na dimensão errada. Ela escreveu: “Eu me sinto como alguém que anda enquanto a esteira corre. Estou ciente de que sempre vou cair... fail! seria o termo ideal.”

No início eu fiquei muito deprimida com o diário mas eu tinha que saber mais dessa história de tempo.

Ela assumia que todos os fracassos da sua vida eram resultados do acidente divino, citava algumas mortes prematura ocorridas na família, a sua falta de sociabilidade e ainda a perda de um amor como prova da sua teoria, mas sem citar nomes ou relatar os fatos. Isso me deixou um tanto curiosa quem teve a morte prematura? quem terá sido esse amor?

Eu procurei registros da família Orlan, o único que apareceu foi relacionada a um homem que hoje é nome de rua, Francisco Orlan um médico que ajudou muito as pessoas e viveu muito... dizem que ele viveu até os 115 anos de idade, morreu sem deixar filhos acabando com a linhagem. De onde então teria vindo a linhagem dela? No diário, mais pra frente, ela cita o encontro com um homem que se dizia Orlan também, embora seus pais não o conhecessem, ela teve medo.

Escreveu Maya “... ele disse coisas sobre o tempo, relacionada com a minha família, que naquela época eu não sabia da importância que teria e nem parei para escutá-lo. No final, antes dos meus pais o afastarem de mim, eu me lembro de ouvi-lo gritar: Eu não sabia da sua existência achei que eu acabaria com toda essa merda... por favor dê um fim nisso e me perdôe.
Estava acabando a era dele, que tentou me avisar antes que começasse a minha.”

Foi exatamente nesse momento que eu temi ler o final eu já estava acreditando, que realmente ela tinha sido esquecida numa dimensão errada. Continuei lendo... “Logo eu percebi que deveria ficar sozinha, mas aquele rapaz, era de uma simpatia tão grande comigo, até o fim dos seus dias ele manteve o mesmo carinho e cortesia comigo, e mais uma vez o tempo me auxiliou a ficar sozinha e acabar com aquilo que aquele homem tinha dito para eu encerrar há anos".

Naquela tarde eu tentei mais uma busca por informações sobre a família Orlan e desta vez eu achei um artigo de jornal que comentava sobre um crime, uma mulher que dopou e manteve o marido com as pernas quebradas, amarrado na cama, até a morte dele e se entregou para polícia. Essa mulher era a minha falecida vizinha, Maya, que depois de vinte anos, internada, numa clínica para doentes mentais passou seus últimos dez anos morando na frente da minha casa até morrer de velhice.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Lajotinha day... again!!!

Eu olhei pra tela, deu uma espreguiçada e disse pra mim mesma, em voz baixa, não tão baixa quanto deveria, mas, enfim, eu disse pra mim mesma: Vamos aos fatos...

Dia da Inauguração do Trapichão (???)

Dia do Dentista

Dia do Macarrão ( isso é bom)

Dia do Sorriso ( isso é coisa de gente que toma ácido)

Dia da Revolução Russa ( capetão!)

Dia de um santo que ninguém conhece

Dia da morte de Richard Harris ( ele fez Harry Potter)

Morre Papus

Dia da fonte dos desejos ( dizem que a Deusa Lua realiza todos os desejos feitos nesse dia)

Dia em que nascemos eu, Picasso e Capistrano de Abreu! ( Hã...)

sexta-feira, outubro 22, 2004

Me, myself and I ...

Lilás morava num lugar muito estranho, era um prédio, mas parecia uma casa com vários quartos, e lá morava todo tipo de gente. Era uma construção arredondada com apartamentos nos cantos e um buraco bem no meio. Nesse buraco tinha um chafariz estragado.

Lilás já não tinha nenhum parente próximo. O mais próximo de um parente que ela tinha era a Dona Regina, uma senhorinha linda. Lilás adorava ela e por vezes passava tardes inteiras conversando, ou lendo com ela.

Regina era uma comuna invicta com todos os argumentos vermelhos que uma boa comuna deve ter. Ela tinha tido uma vida imensa, falava horas sobre tudo o que já tinha feito na vida, e ela realmente já tinha feitos coisas incríveis, só não contava como havia chegado alí e Lilás não tinha coragem de perguntar.

As visitas que Lilás fazia a casa dela aconteciam sempre da mesma forma. Regina sempre parava na porta e dava uma volta, pedia um segundo, ia até a radiola, colocava o mesmo disco da Billie e cantava ... me, myself and I...ela cantava sorrindo e dançava a doçura que aquela música despertava nela. Em seguida começava a tocar “Georgia on my mind” e Regina se portava de acordo com a música, sentava, com uma tristeza elegante, e acendia um cigarro.

Lilás adorava isso e só entrava em cena quando Regina perguntava: - me acompanha? E enchia o copo de bourbon até a boca, acabando com a elegância e soltando uma longa risada.

A tarde corria com discussões sobre poesia, música e política. Regina era uma senhora desbocadíssima e por vezes corria pra janela e gritava : “ Homens de terno, prestem atenção na diferença entre uma prisão de ventre e uma saída bloqueada... colocaram no seus cus mas vocês nem se deram conta. Isso aconteceu na mesma hora em que vocês estavam tentando colocar no cu de outrem. Marrons! vocês são todos uns marrons!

E completava só para Lilás... “ marron é uma cor tão sem graça, chega a me dar náuseas”... Corria para o banheiro, vomitava e dormia.

Lilás ia embora para casa um tanto atormentada pela bebida, no caminho ela ia pensando sobre qual seria o intrigante caminho que levou Regina àquela vida, se perguntava ainda se não estaria próxima demais do percursso feito por ela e se no caso ela teria condições de viver tão plenamente como vivia Regina. Lilás chorava ao pensar nisso e falava sozinha com o intuito de se aproximar tanto do ridículo ao ponto de não ter mais medo dele. Ela chorava e sorria para desconhecidos pensando qual seria a música que ela cantaria com saudade.


quinta-feira, outubro 14, 2004

De presente pra mim

E então eu bati os olhos em você
e de tão relapso
ao invés de continuar a te ver
bati com a cara no cinza chapado do chão.

Olhei pra cima, ferido somente no ego
e tentei ver a cena. Será que tinha lhe causada algum frisson?
se repúdio, graça ou pena...
aquela desgraça deveria me servir para ao menos chamar sua atenção

Mas o maldito acaso você olhou para o lado.
não sei se me viu... se viu minha queda na verdade
sei que mais uma vez eu gostaria de não precisar desses artifícios
mas como ainda preciso, devido a minha timidez, cairei novamente.
desta vez na sua frente com rosas na mão e o olhar mais perdido que eu
puder lhe lançar

Ah!!! você não há de me ignorar
quero que você sinta
mesmo que seja com raiva ou, como você sentiria uma piada
quero que você sinta
eu ficarei satisfeito se conseguir alterar ao menos o curso do seu caminho

terça-feira, outubro 05, 2004

O Beco -


Ana vivia numa pequena vila onde todos se conheciam mais do que gostariam. Onde uma vez por ano acontecia algum escândalo e alguém se mudava às pressas. Feliz daqueles que se mudavam.

Ana andava pelas ruas arrastando os sapatos nas pedras lisas e gostava disso. Ela percorria seu caminho de ida sem se distrair com vitrines mas voltava olhando uma por uma. Parava no café, comia um bom pedaço de torta de chocolate e bebia uma xícara de chocolate quente. Depois da sua orgia alimentar diária ela seguia seu caminho de retorno para a casa.

O único momento de desgosto para Ana durante o dia era quando ela tinha que passar pelo beco que levava à sua casa. Mas não tinha outro caminho.

O beco era extenso e apertado, tinha apenas uma janela e uma porta de um estabelecimento mau freqüentado, diziam que alí se praticava de tudo: desde sexo sujo até magia envolvendo sacrifícios de animais. Dava medo e fedia.
Mas ninguém assumia essa possibilidade. Só corria mesmo à boca miúda.

Ana continuava seu caminho, bem na metade do beco, onde já não se via as luzes da entrada nem as da saída, bem no meio, longe também da porta e da janela, Ana vê um estranho. pára por um segundo mas continua ao perceber o olhar de deboche do estranho diante do seu desmascarado medo.

Passando pelo estranho que era um sujeito realmente estranho com a pele de um tom de branco quase transparente, olhos amarelos , grandes olheiras roxas, machucados que pareciam que nunca mais iriam sarar nos cantos da boca, e corpo de uma magreza cadavérica. Bem... passando pelo estranho ela escuta ele dizer: - O som dos seus passos sempre estão a me guiar. Puxa! quando você vai aprender?

Ela se sentiu tonta de medo como se aquelas palavras fossem na verdade ameaças de uma morte dolorosa e familiar.

Ele continuava dizendo... - Vou para sua casa sei que você não me dirá não. Apesar de ser o mais certo. A cada vez me dedica um sentimento forte o bastante para me levar para casa não é mesmo?

É engraçado que até o medo seja um motivo para tal. Criança acorde! eu preciso ir dormir...mas vamos que por hora eu terei que me contentar em apenas deitar-me. Vamos!

Ela tremia e não conseguia dizer uma só palavra. Ele parecia minar suas energias.
O tempo passou e o estranho permanecia na casa de Ana. Nada era como antes, a cidade estava suja e Ana também.


Certa vez ela decidiu tentar pedir que ele fosse embora de sua casa mas ela olhava pra ele e só conseguia chorar. Então Ana apelou para medidas mais radicais, decidiu cavar um buraco num velho campinho que não era usado mais, colheu alguns cogumelos venenosos e preparou-lhe um chá com cogumelos e baunilha. Em seguida serviu ao estranho, que bebia olhando com indignação para ela, enquanto desfalecia o estranho repetia: - Criança como pode repetir insistentemente a mesma ação. Não lhe dói as mãos?

Ela só assistia o assassinato ser consumado sem ser desperdiçado uma gota sequer da bebida fatal.

O estranho tombou e aparentemente tudo voltava ao normal o ar já estava mais leve. Ana completou o trabalho, enterrou o cadáver e voltou para casa se certificando de que realmente não havia maneira menos drástica que aquela.

Ana passou novamente pelo beco, com a intenção de zombar da situação, só não esperava ver alí, exatamente no mesmo lugar, o mesmo estranho agora um pouco mais enfurecido. Ele olhou para ela, ele babava e dizia: - Criança como pode ser tão incompetente assim? me responda. Eu já disse que eu preciso dormir... Mas você sempre faz isso. Ok, vamos lá....
Ele deu uma porretada na cabeça dela fazendo a desmaiar e quando Ana acordou ouviu um estranho dizer: - Puxa! quando você vai aprender? resmungou ...agora não importa mais. Vamos tentar de novo.


Dedicado ao Bruno Amarred.
Autor da foto.