quarta-feira, novembro 30, 2005

Estragos!

E lá se foi a alegria
Pisando forte
Jurando nunca mais voltar.

Levou na mala
Roupas sujas e
Lágrimas não choradas.

Para não contrariar
Abro a última garrafa
E vou de encontro à última gota.

Acordo dando razão
À sua partida e à
Sobra de seus pertences.

E, só por ironia
O dia não está cinza
A luz brilha na minha cara


Muito romântico.
Minha cara partida
Exposta, ferida à luz do dia.


Ai meus ais!
Como pode uma gota
ser tão destrutiva?


O que dói não é o abandono
Sua partida, desde a chegada,
Era esperada.


Mas partidas sem despedidas
Não finalizam nem iniciam nada
Só este poema sem rima e sem graça.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Ode a Ana

Deus me traga Ana de volta, estragada.

Eu a quero antes de conhece la, antes das cinzas de cigarro no meu lençol,
antes do sol nascer. Sem risadas histéricas e sem saber o preço de suas
calcinhas. Traga Ana sem intimidade, sem olhares de entrega e sem lágrimas
no rosto. Traga Ana para mim sem amor.

Quero Ana de volta vendada, travada com lacre de segurança.


Afasta de mim essa mulher que sorri todos os seus dentes, essa Ana maquiada
e penteada, falante e preguiçosa, entregue e amante, cheia de medos e
desejos maternais.

Afaste a da minha casa e acima de tudo, Deus, afaste seus braços compridos
que parecem poder envolver o mundo.

De onde saiu essa mulher amante que parece não querer nada além de amar. Ana
ama tudo, ama a vida, a mim, aos nossos futuros filhos. Ana não é mais, nem
de longe, a mulher que costumava ser.


Eu quero Ana de volta nem que eu tenha que perder. Eu quero Ana me
ignorando, falando baixo e rasgado, odiando a tudo e a todos. Como eu podia
imaginar que tudo que Ana queria era amar. Ana perdão, mas seus filhos vão
morrer antes de nascer. Ana que ama vai chorar e eu vou perder. E no final
eu terei apenas o pior de você que na verdade foi o que eu sempre amei.
Perdão por te lá feito se entregar, mas você exagerou, Ana.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Berlin

No primeiro momento o medo foi inevitável ela ansiava por aquilo tanto quanto temia.
Mas finalmente lá estava Sofia diante de um mundo dez vezes maior que ela. A manhã era tão convidativa quanto à noite, era fria, calma e com cheiros distintos.

A chuva que caía deixava tudo cinza e melancólico, fazendo com que os elementos que compunham a paisagem a frente dela, inclusive ela, fossem muito mais antigos que realmente eram.

Então por um momento a chuva a fez parte daquilo que ela nunca foi, que nunca foi dela, mas que naquele momento era como se fosse.

O decorrer do dia passou como os dias passam para um recém-nascido.
Sofia poderia ter tido um maldito torcicolo, pois cada pedra de calçada era notada e a moça parecia querer engolir cada novidade apesar de, para sua surpresa, ter se sentido estupidamente feliz ao se deparar com alguns elementos familiares.

A noite trazia vários sons: uns embaraçosos outros bem vindos e a premissa de uma madrugada encharcada. Sofia bebia devagar a fim de não estragar sua percepção com a embriaguez, mas foi inevitável e até mesmo prudente beber mais que uns copos.

O frio doía na costela e a bebida só serviu mesmo para aquecer o corpo e a mente.
Sofia sentia o hálito frio e alcoólico do ar que insistia em ser fiel a sua razão... Parecia que ele poderia carrega - lá, levando-a para outro lugar ou mesmo entregá-la de volta.

Sofia pensava nisso enquanto uma mulher dizia coisas sem sentido e a presenteava com um pedaço de desenho que outrora ela tentava vender inteiro. A moça sorriu aceitando o desenho e saiu para outro bar, um que fosse possível dançar.

O vento, oposto a chuva, a tinha deixado deslocada. Claramente fora do contexto.
A madrugada trazia jovens encorajados por alguma força misteriosa, dessas vendidas engarrafadas ou enroladas em papelotes de alumínio.

O vento espalhava a fúria deles por colocar um fim a clareza. E tudo se tornou comum novamente, pois em se tratando de humanos nada, nem mesmo a distância os consegue parecer discrepantemente diferentes.

Então Sofia foi de volta pra casa. Onde ás vezes ela se sentia estupidamente feliz!

quinta-feira, setembro 01, 2005

O puteiro das candongas

Puta que pariu! Eu dizia pra mim mesma
Puta que pariu, você deixou o miojo queimar.

Choro...

Saio pra rua sem coragem de olhar a panela queimada e pensando na estupidez de ter saído de casa sem aprender a cozinhar. Puxa que burrice!

A casa é tão pequena mas tem enormes espaços vazios,assim como a rua que apesar de grande parece que não mora ninguém, só apartamentos. Onde estão os moradores, meus vizinhos, eu só vejo portas! Ora quem se importa, nem eu estou lá!

Eu gosto mesmo do metrô, tem o cara lindo que eu gosto de observar dormindo.
Tem a menina da mochila rosa, ah! Como ela cheira bem e aquele velhinho que fala sozinho e sempre diz umas coisas engraçadas.

Às vezes eu me sinto muito insignificante e ás vezes isso me faz bem.
É gratificante passar batido por aí, o mundo dá voltas, os conceitos evoluem e uma vez a cada tempo eu acabo me tornando cool de tão sem graça.

Mas o que pertuba minha vida é a casa torta! Por isso todos os dias eu passo por aqui e vejo se fizeram alguma coisa com ela! Deviam derrubar a porra da casa, casa feia do caralho!
Um dia eu queimo ela, abro um puteiro, chamo o velhinho doido do metrô para ser o porteiro, coloco a menina da mochila rosa para trabalhar e me caso com o cara lindo que dorme!

terça-feira, agosto 30, 2005

A escolhida

- Me diz que não, por favor!
- Como assim goldenshower?
- Eu não posso te dizer isso.
- Parece divertido
- Desculpa , o que você disse?
- Eu disse para nós sairmos daqui, talvez a minha casa.
- Acho que não... Eu quero dançar.
- Você sempre quer dançar.
- Então vamos?
- E eu tenho escolha?
- Claro que tem, sempre teve.
- É, mas hoje eu escolho você!
- Quanta honra!
- Eu não quis...
- Não esquenta eu tô brincando.
- Eu não, definitivamente eu escolho você.
- Eu também me escolhi. E aí, como é que nós vamos fazer?

Depois disso nós ainda conversamos sobre tudo e eu já não ouvia as conversas alheias.
Sua mão na minha perna me deixava nervosa quase com vontade de chorar mas , apesar de não querer mais dormir sozinha eu não queria ser escolhida.
Queria ser a única opção e ele me tirou o privilégio e ainda deixou em mim uma mágoa.
A mágoa de ser egoísta!

As mémorias de Alice

Honestamente eu gosto mais de pensar nele que estar com ele.
Isso por vezes me consome mas, eu gosto de me lembrar de seu rosto, aquele rosto perturbado embora bonito pena que ele esteja perdendo a definição, que fraca memória eu tenho.

As lembranças são bem melhores que os momentos, elas são moldáveis.

Mas você está se apagando pena eu não poder te ver de novo... isso estragaria toda a minha lembrança e então é melhor deixar você ir, detesto esse meu lado possessivo, ora bolas se ela que ir que se vá. Vá para o inferno! junto com todas as outras boas caras das quais eu já me esforcei para lembrar... e me leve junto que essa faceta de mim era só para ele!

Foi tão fácil te ter... Agora só peço que se vá de uma vez, o problema são os fragmentos de lembrança.
Me faça o favor e tire de vez seu maldito sorriso da minha cara!

quinta-feira, abril 07, 2005

O diário das coisas

A madeira que se acaba
O amor que me confunde
A razão que se perde
O sono que se funde
A realidade que finda
A loucura que começa
Os sons que interrompem
A felicidade que cessa
A tristeza que aquieta
A Frida que inspira
A inspiração que me impele
A inconstância que me agride
A seta que me resta
Os sorrisos que encerram!
As Mirians que são Mirians

terça-feira, março 29, 2005

O último café

Hélia rasgou foto por foto do álbum de infância que a mãe, Dona Clara,
conservara até a morte. Catou umas roupas da falecida para ganhar
algum dinheiro no brechó e se queixou por ter sido a mãe tão pouco
vaidosa. Era sexta-feira e fazia frio na cidade, Hélia já tinha trinta
e sete anos, os parentes já não faziam brincadeiras sobre sua
solteirice, na verdade os parentes não faziam brincadeira alguma com
ela. Hélia era afiada como uma navalha e suas reações poderiam ser bem
violentas.

A moça era garçonete, ninguém nunca entendeu como ela conseguiu
arrumar um trabalho desses, ela parecia se dar melhor com cobras que
com pessoas. A lanchonete era no centro, Hélia odiava o lugar e tudo
que se relacionava a ele.

No dia da morte de Dona Clara, Hélia teve a tarde de folga, por causa
do luto. E aproveitou para andar um pouco por perto do cemitério, que
era uma região antiga da cidade, um bairro calmo e bonito.
Hélia andou por horas antes de se sentar num bar para um café. O bar
era do Seu Hamilton. Um senhor realmente muito amável, que exibia com
orgulho uma vasta coleção de canecas de alumínio com emblema de vários
times de futebol. Ficava numa prateleira de madeira, na parede, logo
atrás do balcão onde ele ficava escorado fumando seu cachimbo.

Hélia entrou e pediu o café, Seu Hamilton, logo perguntou o que ela
estava fazendo por aquelas bandas, se vinha do cemitério. Hélia
respondeu que sim, sem vontade, catou o café e sentou-se a mesa com
uma jornal de ontem que estava espalhado sobre ela. Seu Hamilton não
se fez de rogado, sentou-se na mesa com Hélia e deu inicío a uma
conversa amistosa com a moça:

Sabe filha, eu tenho esse butequim aqui a mais de vinte anos, no mesmo
lugar! Acompanhei muitas crianças virarem adolescentes bagunceiros e
então doutores. Já ví e ouvi muita coisa, filha. Principalmente de
gente saída do cemitério sabe. Tem muita gente sozinha nesse mundo.
Você me entende?

Hélia sorriu sem paciência e continuou a passar os olhos pelo jornal.

Seu Hamilton não era homem de desistir fácil, sua função alí no bar ia
muito além de atender as pessoas, ele as ouvia sempre e não poderia
ceder diante de uma pessoa claramente necessitada.

Minha filha... disse Seu Hamilton abrindo os braços e sorrindo com os olhos
Desabafa! bota para fora toda a sua tristeza.

Hélia que já estava farta de toda a choradeira e lamentos pouco
convincentes dos familiares, deu uma gargalhada que mais parecia um latido, e disse
para o velho:

Meu senhor, o senhor não é meu pai então pare de me chamar de minha
filha, EU, lamento muito que o senhor tenha passado vinte anos da sua
vida inútil, dentro desse buraco fedido vendo os outros prosperar, sem
sair do lugar. O enterro que estou vindo é da minha mãe, uma mulher
fudida que nunca fez nada nessa vida além de se lamentar por ter se
casado e tido filhos perdedores com um homem vagabundo e picareta, o
senhor meu pai, que o diabo o carregue!!!! Portanto eu só estou
cansada de toda a trabalheira que dá enterrar uma pessoa e só queria
aproveitar um pouco a folga que me foi dada por razão da morte da
velha.

Agora dá licença! que eu..

Blam!!!

Seu Hamilton é realmente um senhor muito amável, mas ele não gosta de
ingratidão, e tem acesso irrestrito ao cemitério. Agora Hélia jáz
junto com sua mãe, Dona Clara, que recebe semanalmente, assim como
mais de vinte pessoas, rosas vermelhas de Seu Hamilton.

quinta-feira, março 03, 2005

O paciente

- Sexo?
- Até a segunda ordem. Danilo diz e aponta pra si.
- Sexo? Pergunta a atendente já sem muita paciência
- Masculino.Será que a minha aparência deixa dúvidas? Pensou Danilo.
- O Sr.está esperando o Dr Otacílio?
- Como senhora?
- O SR ESTÁ ESPERANDO O DR OTACÍLIO, O PROCTOLOGISTA? Diz a atendente em volume suficientemente alto para a vizinha de Danilo, sentada nas cadeiras de espera, escutar e soltar gargalhadas histéricas.
- Por que a senhora não vai tomar no centro do seu cu? Diz Danilo em volume compreensível só para a atendente, e sai sem se consultar.

- Eu nem estava esperando o proctologista, aquela mulher fez o que fez só para me sacanear. Diz Danilo à mulher sentada ao lado dele na fila do banco, um banco chic a valer, com cadeiras para os clientes, que Danilo tinha ido assim que saiu do consultório para tentar negociar suas dívidas. A mulher não gostou da conversa dele, na verdade ela achou que ele estava pedindo pra ela fazer um ‘fio terra’ e como ela era crente não gostou da idéia.
Danilo tratou logo de se explicar, mas ela saiu gritando, aos prantos, que o diabo a estava tentado mais uma vez, as pessoas na fila olharam torto para ele, que por sua vez, fingia ignorar todos eles.

Danilo chegou à conclusão de que todo mundo tinha acordado de ovo virado hoje, ele mal podia esperar a noite chegar para se enfiar dentro de um daqueles inferninhos, bem quentes, bem sujos e se embebedar o suficiente para não conseguir distinguir uma cara feia de outra.

No inferninho, Danilo se sentia acuado demais para tentar se aproximar de alguma mulher. Sentou no bar e bebeu durante horas, só resolveu ir embora um pouco antes de clarear. Na porta uma mulher se aproximou e perguntou seu nome, Danilo sem entender muito o que estava acontecendo, gritou pra mulher: SOU HOMEM DÁ PRA VER? OU POR ACASO EU ME VISTO COMO MULHERZINHA?
A mulher estava calada e continuava parado na frente dele, por um segundo Danilo parou e perguntou: Por acaso você não sente nenhum um pouco de tesão por mim?
- Eu estava justamente pensando nisso... mas você fala demais. Disse a mulher saindo.
Danilo se abaixou achando graça e gritou para moça ouvir: EU TAMBÉM NÃO QUERIA, VOCÊ ACHA QUE EU SOU FÁCIL ASSIM, EU SOU HOMEM, MAS NÃO SOU TÃO FÁCIL ASSIM!!!

Na volta pra casa Danilo pensava na atendente. A culpa era toda dela, aquela mulher perversa!!!!!
No dia seguinte, pela manhã, com uma ressaca de elefante se espremendo na cabeça dele, Danilo resolveu procurar a filha da puta da atendente,decidido a acabar, de uma vez por todas,com aquele arzinho de atendente filha da puta. chegando no consultório:
- Sexo?
- Com qualquer vagabunda menos com você! Diz Danilo em volume compreensível só para a atendente.
- O que é isso??? olha que eu chamo a polícia seu louco pervertido!!!! Diz assustada e em voz alta a atendente
- Como senhora? O que está acontecendo eu posso ajudar!! Disse Danilo fingindo, para os demais,que nada estava acontecendo.
- Sexo?
- Aos quinze eu poderia fingir que você era a minha eqüina, mas hoje não rola né! você entende.
- A atendente boquiaberta, tentava gritar, mostrar-se indignada, mas as pessoas estavam ficando cada vez mais assustadas com ela.
- Nome?
- Ah! Bom... Danilo Ferreira homemaior, igual ao meu membro, membrão!!!!
- Pode aguardar alí, longe de mim, diz a atendente...baixinho desta vez. o senhor será o próximo!

terça-feira, março 01, 2005

Visita para Dona Ana!

Fazia tempo que Dona Ana não saía para passear ela pensou que talvez essa tarde seria um boa tarde para tentar, ela queria fazer uma visita.
Dona Ana sabia que pessoas passeando pelas ruas nunca eram convidadas a entrar então, pensou em ficar na varanda da sua casa e esperar por alguém que parecesse estar passeando e assim o convidaria a entrar. A velha queria disseminar uma nova cultura, solidariedade aos solitários, ela não deveria ser a única.

Dona Ana colocou sua melhor roupa e logo passou por sua rua uma jovem, distraída. Possivelmente ela estaria ali a passeio. A velha se aproximou da jovem e perguntou qual era seu nome, a moça olhou estranho e atravessou a rua sem responder. Dona Ana já esperava por isso, voltou para a varanda de sua casa sem se abalar aquele era só o primeiro dia.

Pela manhã chovia e Dona Ana viu no mau tempo uma boa chance de receber visitas, mas mesmo debaixo de chuva ninguém aceitava o abrigo oferecido, pensou que talvez ela estivesse parecendo ameaçadora demais e na manhã seguinte já com o sol brilhando, arrumou os cachos do cabelo e, com uma jarra de limonada foi para a varanda. Desta vez, o calor seria um atrativo para o seu visitante.

Dona Ana Fez deste momento sua rotina diária até a morte, alguns dias ela recebeu visitas outros não, mas não tinha importância, apesar de nunca ser convidada para fazer uma visita,Dona Ana tinha vários visitantes: Elida, a costureira que contava para Dona Anica todas as maldades que o marido fazia e que ela se recusava terminamtemente a larga pois só ela conhecia a verdadeira essência do marido, no fundo, um bom homem corrompido pela cachaça.E ainda, Jonas o belo lixeiro que tomava banho em sua casa e deixava a velha espiar, Rosaura uma artista, que até pintou um quadro de Dona Ana que,apesar de não ter gostado muito,pendurou na sala de estar, bem no meio da parede. E o mais querido de todos, o mais fiel, Leopoldo o cachorro que passava por lá todos os dias para se alimentar e até hoje, mesmo depois da morte de dona Ana, passa por lá todos os dias na esperança de encontrar alguma migalhinha.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Desamores de Carnaval

Rio antigo, carnaval. A felicidade e a leviandade são obrigatórias.
Eu não me importaria com isso se a antes preguiçosa tristeza não estivesse
agora desperta como os foliões que fazem troça de mim pelas ruas.

Sou uma mulher de um só, nem parentes, nem amigos, nem ninguém
gozava de minha atenção e afeto que estavam todos dedicados a ele,
aquele que partiu me deixando com a obrigação de ser feliz.

Renato não disse nada além de: Amar, amo Joana mas prefiro me afastar.
Antes que ele viesse com os pormenores o interrompi ciente de que
alí havia a mesma razão que qualquer outra pessoa teria para largar o
parceiro, por mais que Renato, o poeta, sensível fizesse grande
esforço para não ser um homem de sua época, aquele ato era comum a todos os seus contemporâneos. Substituir a sua gasta e irritadiça mulher por outra juvenil e branda.

Ainda que tenha me sobrado somente uma carcaça estraçalhada o pior foi ter
de voltar a antiga casa de minha mãe. Por caminhos que antes me
levaram cheia de expectativas a casa do venerado Renato. Ah! o homem
de minha vida, adorável, um pensador, muito a frente dos seus, homem
liberto, impressionante, imprevisível, até demais.

As ruas já estavam pilhadas de chuva e foliões, eu me encontrava ainda
mascarada. Não contava pela manhã, que a tarde já estaria desgastada.

Fui andando sentido meu corpo inteiro pulsar, andava pelas ruas com uma
obstinação sem a qual, eu acreditava, não conseguiria chegar ao meu
destino. O lar abandonado de mamã, com seus móveis antigos, seus
horários e aromas.

Mamã havia de me consolar, mas havia também de me lembrar o quanto
desaprovou o meu companheiro, comunista e fanfarrão que aos trinta
ainda vivia de mesadas da avozinha. E desta vez eu não iria jogar na cara
dela a bela poética do meu amado que não devia nunca ser desperdiçada
em jornalecos de quinta.

Nas ruas, estrangeiros se encantavam pelas belas mulheres, negras,
loiras com 1,80 de altura, e alguns atributos secretos a mais. Aquela
confusão de gente fazia meu estômago doer. No deck, Martha gritava meu
nome, mostrando os dentes, embriagada se perguntando qual a razão da
minha rouca alegria.

Por mais que eu esclarecesse à moça, ela não se conformava com as
razões da minha tristeza, "Deixa lá suas lamúrias mulher, que homem
tem a rodo". Martha só não compreendia que eu não havia perdido um
homem e sim a minha metade que se não fosse aquele estava provado que
metades não existiam!

Martha era uma dessas feministas que de tão radicais acabavam se
portanto como homens da pior laia. Preferi ir embora, recusando o
convite de Martha de festejar minha liberdade.

Havia música por todos os cantos, por pouco tempo eu tive vontade de entrar na água, mas o mar estava infestado de cores e alegrias e aquilo já não me cabia bem.

Fui pensando na minha ingenuidade em achar que aquele poeta era tão
diferente de todo os homens. Gostaria que ele tivesse sido mais original
e terminado de forma mais drástica... "Ah minha querida não te amo mais,
não insista pois outra mulher é para mim objeto de reverência, quero
apagá-la à borracha para dar espaço à minha nova amada. Suma daqui!"... Assim teria sido bem melhor que ser trocada covardemente por uma fulaninha que ele não se atrevia nem a contar-me a existência que teve que ser confirmada por Martha, que a chamava de: Margarida, bela e fedida.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

-Mail to-

-----Mensagem original-----
De: Mirian Silveira [mailto:msilveira@gmail.com]
Enviada em: sexta-feira, 14 de janeiro de 2005 13:03
Para: Leandro
Assunto: oi

Oi meu coquinho lindo, meu doce de leite, minha cocada derretida meu
chocolate belga, minha música preferida, meu filme predileto, minha
noite bem dormida, meu orgasmo demorado, minha lembrança colorida, meu
cheirinho de café feito na hora!

Meu sonho concretizado, meu conto mais ousado, minha tarde de folga,
meu cantinho particular, meu prato predileto, meu trabalho bem feito,
minha boa razão, meu maluco preferido, meu melhor amigo,
meu melhor namorado, meu futuro marido.

Como vai você?

Um texto de merda...

Espero tirar mais fotos, eu amo isso. Odeio pensar que faz mais de um ano que eu não me dedico a coisas que amo. Não quero me deparar com pessoas arrogantes, espero que elas me evitem. Odeio conversar com gente que ao invés de escutar fica só pensando no que vai dizer, com medo de errar.

Acho que vou tomar mais sol e se a minha pele ficar fudida, foda-se ela vai se fuder de qualquer jeito mesmo. Espero gostar de comidas light, eu adoro comer mas minha barriga me deprime, me fazendo comer mais ainda então é melhor eu me controlar. Ow! mamão com adoçante é o máximo!

Acho que vou sorrir mais, eu quero rir três horas da tia do Batiman. Espero beber menos e me embriagar mais...Uma caipirinha com adoçante já basta. Quero aprender mais sobre coisas como a Iakusa... não vai me servir pra muita coisa não... mas é bom ter no banco de dados.

Eu gostaria que todos os velhinhos fossem corados e gordinhos, eu gostaria que todos os cachorros fossem cheirosos e sem pulgas e os gatinhos tivessem sempre suas unhas aparadas e as baratas se mantivessem sempre lá no esgoto delas longe do meu raio de visão. Espero ver menos baratas em público, elas são umas exibidas.
Gostaria de ter menos aflição, eu mal consigo escrever esse trecho sem sentir nojo!!!!!

Me esforçarei para escrever menos porcarias, como esta. Mas a intenção dele é ser uma merda mesmo... então prossigamos com os devaneios e reclamações... agora a parte do odeio declaradamente... Odeio quando eu falo baixo e as pessoas não me escutam, odeio quando me chamam pelo nome da minha irmã, mas amo ela! odeio quando acordo com sono, isso acontece todo dia. Odeio quando leio um texto num meio de credibilidade escrito por gente que não tem a menor idéia do que está falando, jornalistas do MG TV, falando abobrinhas sobre RPG. Odeio pessoas que tem orgulho de serem ignorantes, odeio pessoas simpáticas demais, nunca confie em pessoas simpáticas demais. Odeio gente que tem certeza das coisas, geralmente elas estão se enganando com convicção.


Amo gente pertubada, amo meus amigos que sofrem, uma vez por mês por um amor eterno diferente, amo homens que amam mulheres. Amo cheiro de café, de asfalto molhado, filtro solar em clube, leite condensado misturado com leite no fogo, cheiro de outro lugar, um lugar que eu não conheço, amo me divertir com bobagens, amo ganhar chocolate e acho que todo mundo gosta também, amo minha cama, amo ler um livro que me faça pensar nele o dia inteiro, amo escutar uma música fofa, o frusciante tem uma música fofíssima, que me deixa feliz, amo rever antigos amigos, amor rever filmes, uma duas ou sete vezes.

Amo escrever essas besteiras!