terça-feira, março 23, 2004

Maldito acaso




Eu nunca havia pensado que aconteceria assim, de todas as vezes que imaginei essa situação, nunca havia sido da maneira, como de fato aconteceu.
Eu acordei naquele dia, antes da hora programada no despertador, e por isso, tive tempo para pensar um pouco antes de sair, fiquei lá, sentada na beira da cama, pensando abobrinhas. Eu não pensaria na vida, minha vida é corrida e breve, eu poderia me apresentar em poucos segundos, mas é tão sem graça, a minha vida, que eu prefiro poupá- los disso.
Bem, saí de casa para ir trabalhar como de costume, passando pelos mesmos lugares, sem mudar um passo na trajetória, até que sem explicação, levei um banho de água suja, um carro, passando em cima de uma poça, me fez este favor. Ò t i m o, nada pior poderia acontecer na vida de uma pessoa que calcula por minutos as suas ações, como eu faço, o que eu faria? Eu realmente não sabia, não tinha idéia, olhei para o chão e chorei, por horas a fio, eu não poderia ir para o trabalho daquele jeito, eu estava fedendo. Não poderia ir para casa, eu estava humilhada e quanto mais tempo eu ficava parada alí, mais se distanciava de mim a possibilidade de voltar ao curso normal das coisas, a vida simplificada que eu pensava levar, me proporcionava ter controle sobre ela, mas isso eu não contava que aconteceria, já estava anoitecendo e eu continuava lá, chorando e sentada no meio fio, até que me faltaram lágrimas para continuar e eu fiquei lá, agora, olhando as pessoas passando, algumas paravam falavam comigo, outras até me jogavam moedas.
Foi assim que eu passei a ser um ponto de referência, conheço todo mundo que passa, e me divirto com suas distraídas esquisitices, elas, as vezes, falam comigo, me pedem informações.A questão é que eu consegui uma nova rotina, e essa dificilmente será corrompida. Nela me manterei até que o acaso me pegue outra vez.

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