No primeiro momento o medo foi inevitável ela ansiava por aquilo tanto quanto temia.
Mas finalmente lá estava Sofia diante de um mundo dez vezes maior que ela. A manhã era tão convidativa quanto à noite, era fria, calma e com cheiros distintos.
A chuva que caía deixava tudo cinza e melancólico, fazendo com que os elementos que compunham a paisagem a frente dela, inclusive ela, fossem muito mais antigos que realmente eram.
Então por um momento a chuva a fez parte daquilo que ela nunca foi, que nunca foi dela, mas que naquele momento era como se fosse.
O decorrer do dia passou como os dias passam para um recém-nascido.
Sofia poderia ter tido um maldito torcicolo, pois cada pedra de calçada era notada e a moça parecia querer engolir cada novidade apesar de, para sua surpresa, ter se sentido estupidamente feliz ao se deparar com alguns elementos familiares.
A noite trazia vários sons: uns embaraçosos outros bem vindos e a premissa de uma madrugada encharcada. Sofia bebia devagar a fim de não estragar sua percepção com a embriaguez, mas foi inevitável e até mesmo prudente beber mais que uns copos.
O frio doía na costela e a bebida só serviu mesmo para aquecer o corpo e a mente.
Sofia sentia o hálito frio e alcoólico do ar que insistia em ser fiel a sua razão... Parecia que ele poderia carrega - lá, levando-a para outro lugar ou mesmo entregá-la de volta.
Sofia pensava nisso enquanto uma mulher dizia coisas sem sentido e a presenteava com um pedaço de desenho que outrora ela tentava vender inteiro. A moça sorriu aceitando o desenho e saiu para outro bar, um que fosse possível dançar.
O vento, oposto a chuva, a tinha deixado deslocada. Claramente fora do contexto.
A madrugada trazia jovens encorajados por alguma força misteriosa, dessas vendidas engarrafadas ou enroladas em papelotes de alumínio.
O vento espalhava a fúria deles por colocar um fim a clareza. E tudo se tornou comum novamente, pois em se tratando de humanos nada, nem mesmo a distância os consegue parecer discrepantemente diferentes.
Então Sofia foi de volta pra casa. Onde ás vezes ela se sentia estupidamente feliz!
2 comentários:
Parabéns Miroca! Belíssimo!
A carga de profundidade e o uso que você fez das metáforas praticamente me transportaram pra Berlim.
Ótimo mesmo.
Me lembrou O Estrangeiro do Camus.
Quando escrever te mando o link.
Thago
Olá, Dona Miroca,
Não vejo esse texto como um conto, não é mesmo? Ele está mais para uma poesia na forma de prosa poética. Ele tem como objetivo mais transmitir sensações do que contar uma história.
Eu prefiro historinhas mesmo. Não sou um grande fã de poesia. Mas nada contra, claro, é apenas uma questão de gosto pessoal.
No entanto, o que importa é que você realizou isso muito bem. É um texto feito basicamente de descrições, mas todas elas são carregadas de sentimento, despertam emoções, nos fazem pensar.
Isso é difícil de ser feito. Em uma história, geralmente vemos descrições secas e enfadonhas.
Se a senhorita decidir criar uma história, e aliar seus ótimos enredos com essas ótimas descrições, isso deve gerar um efeito muito poderoso.
Muito bom isso!
Abraços,
Curuja
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