sexta-feira, novembro 26, 2004

O Retorno

Ana morava no interior e trabalhava na cidade. Como uma daquelas pessoas
que preza muito por qualidade de vida, ela não se importava em pegar
estrada todos os dias para voltar para casa.

Naquele dia a estrada estava especialmente calma, e
Ana estava especialmente disposta a dirigir, situação exata para se ouvir B52's e
era o que a moça ouvia no som.

Pelo trajeto, poucos carros e quase nenhum caminhão.
Foi por isso que Ana não estranhou muito ao se ver sozinha, já fazia um bom
tempo que não passava nem ao menos uma carroça.

O caminho, ela conhecia muito bem não havia explicação para que, de repente
já se passassem horas e ela ainda não tinha chegado em casa, por um caminho que a
levava, todo os dias, em meia hora.

Ana começou a se sentir desconfortável mas, continuava dirigindo e
escutando B52's. Ela só resolveu voltar para a cidade depois de
admitir que algo de errado estava acontecendo. Ana teve medo de estar
louca, ela voltou, avisou para o marido que teria que dormir
por lá e ficou num hotel pensando no que aconteceu e na volta para a
cidade que levou exatamente meia hora.

No dia seguinte decidiu seguir o curso normal sem pensar mais no
assunto. Foi para o trabalho e no final do dia pegou o carro certa de
voltar para casa, sem músicas desta vez e apesar de ter certeza que
aquilo nada tinha a ver com o funcionamento do relógio, comprou um novo.

Eu só posso ter dormido, pensava Ana. Mas o tempo foi passando
e mais uma vez ela se viu numa parte da estrada que era uma reta na
qual o final daria na entrada da sua cidade. Mais uma vez o tempo ia
passando e Ana nunca chegava ao final. Ana dirigiu a noite
inteira, amanheceu e ela ainda não tinha chegado ao final da reta.

A moça parou desceu do carro atônita e chorou, ela gritava, estava
completamente desesperada. Tão desesperada que nem viu a minha
presença ao lado dela. Eu já estava alí uns bons dez minutos, claro!
na percepção de tempo dela. Quando por fim me notou Ana começou a me
contar sua história, falando sem parar até que eu mandei que ela se calasse e
disse: Ana minha filha já é tempo de você voltar.

Eu sabia que ela não iria se lembrar logo de cara, mas preferi que ela
se lembrasse sozinha. Enquanto isso ela insistia em que eu a ajudasse
a voltar para a casa. Eu disse que eu não poderia fazer isso mas que
conhecia alguém que a levaria até lá. Ela só teria que esperar pelo
seu retorno.

Ana insistiu mas aceitou o convite para descansar em minha casa.
Eu sempre digo que a terra das fadas é um lugar encantador mas, ao ver
os olhos de Ana eu mesma tive vontade de sair e me esquecer para poder
me surpreender com toda aquela beleza. Essa era uma experiência única
que Ana vivia pela segunda vez.

Ana, agora, chorava de felicidade finalmente tinha voltado para casa.

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